Roberto Fendt
A FIESP e as importações
Fará bem a Federação em analisar detidamente os números das importações referentes ao seu próprio setor, antes de engajar-se em uma causa cujos verdadeiros interesses ainda não estão claros
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Noticia-se que a Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP) discutirá a partir desta semana o eventual apoio a uma paralisação geral dos trabalhadores contra as importações. Fará mal se assim proceder.
De que se trata? Algumas centrais sindicais e sindicatos – Força Sindical, União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB) e os sindicatos dos metalúrgicos de São Paulo e de Mogi das Cruzes – pretendem cruzar os braços e enviar um forte recado ao governo para impor barreiras às importações.
Alegam as entidades que as importações estão promovendo a desindustrialização do país. Foi esse, aliás, o termo utilizado pelo senhor presidente da FIESP ao encerrar encontro preparatório na Federação, quando afirmou que “todo o setor produtivo, empresários e trabalhadores, está de mãos dadas nessa briga para conter a desindustrialização da economia brasileira”.
Até o próximo dia 6, representantes de trabalhadores e empresários deverão apresentar propostas concretas contra a “desindustrialização”.
Faz sentido paralisar o país, mesmo que por um dia, para brecar as importações? Que mal elas fazem e por que estão crescendo e “desindustrializando” o país?
Em 2011 o Brasil importou 256 bilhões de dólares. Desse total, 59,8% dos produtos importados foram classificados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior como produtos industriais, seguindo a classificação da insuspeita Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Dentre os produtos industriais importados, de acordo com a mesma classificação, 40,3% deles correspondem a produtos industriais de baixa tecnologia, com destaque para alimentos, bebidas, tabaco, madeira e seus produtos, e papel e celulose.
No outro extremo, as importações de produtos de alta tecnologia responderam por apenas 6,2% das importações industriais. Produtos das indústrias aeronáutica e aeroespacial constituem a categoria mais importante de produtos importados de alta tecnologia. Seguem-se a ela, em importância na pauta de importações de produtos de alta tecnologia, as importações da indústria farmacêutica.
A parcela principal das importações de produtos industriais engloba bens das indústrias de média tecnologia, que respondem por 53% do total das importações de produtos industriais. Esses produtos são essencialmente bens de capital para a indústria e matérias-primas industriais.
Desagregadas as importações por sua natureza (industriais versus não industriais) e por grau de intensidade tecnológica das importações industriais, a que conclusão necessariamente chegamos?
Primeiro, que as importações que poderiam causar “desindustrialização” compreendem, inicialmente, pouco menos de 60% do total importado. Segundo, que as importações que poderiam comprometer nosso desenvolvimento industrial – as importações de bens industriais de alta tecnologia – correspondem a somente 3,7% do total das importações e 6,2% das importações industriais. Finalmente, que a maior parcela das importações de produtos industriais, de média tecnologia, equivale a mais da metade do total dessas importações. Elas são indispensáveis à produção industrial do país, já que englobam bens de capital e produtos intermediários utilizados na produção industrial brasileira.
É verdade que as importações estão crescendo muito. Em 2011, elas cresceram 26,8% relativamente a 2010. Contudo, as importações de produtos industriais cresceram menos com relação ao ano anterior (19,3%). E, dentre as importações industriais, as que mais cresceram foram as de média-baixa tecnologia (32,9%), enquanto as de alta tecnologia cresceram apenas 2,4%.
Por todas essas razões, fará bem a FIESP em analisar detidamente os números das importações referentes ao seu próprio setor, antes de engajar-se em uma causa cujos verdadeiros interesses ainda não estão claros.
Porque uma coisa é certa: o principal impulsionador das importações é a valorização do câmbio. Não é necessário fazer reunião alguma para detectar esse fato, de resto público e notório. E a valorização do câmbio, por seu turno, tem a ver com o diferencial de juros praticado no país, que continua a atrair capitais de curto prazo e pressionando para baixo o câmbio.
[Este artigo foi originalmente publicado no "Diário do Comércio", de São Paulo.]