Roberto Fendt
Reflexos econômicos do atentado em Boston
Como reagirão os gestores da política econômica brasileira diante do atentado em Boston?
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Não se tem, até o momento, uma indicação de quem esteja por trás do atentado ocorrido na segunda-feira, 15, durante a Maratona de Boston, nos Estados Unidos. Os suspeitos usuais vêm de pronto à mente, mas, em assuntos como esse, tudo é possível.
Os objetivos de qualquer atentado terrorista são conhecidos. Por definição (perdoem a definição com o objeto definido), pretendem instaurar o terror. Não se trata de impor ao suposto inimigo uma derrota ou a destruição de bens materiais detidos por ele. Trata-se de afetar a moral de quem se pretende atingir. O atentado é instrumento de guerra psicológica e tem efeito mais amplo quando atinge o maior número de pessoas – preferencialmente se transmitido ao vivo pela televisão.
Não tratarei aqui da banalidade do mal, para usar a expressão da filósofa política Hannah Arendt em outro contexto. Tratarei das consequências do atentado sobre as expectativas dos agentes econômicos, nos Estados Unidos e no restante do mundo.
Não constitui segredo para ninguém que a economia mundial anda aos solavancos, abalada de tempos em tempos por cataclismos financeiros. Ora se trata da Grécia, ora da Espanha e de Portugal, ou ainda da pequena Chipre. Todos estão entrelaçados na globalização dos mercados financeiros – e mesmo eventos em um país pequeno podem ter repercussões globais.
A atual etapa da globalização não se restringe a mostrar ao mundo a banalização do mal, ocorra ela nos Estados Unidos ou na Síria. Tampouco se restringe aos mercados financeiros, que operam em tempo real e em todos os fusos horários. Ela também impõe o contágio, tanto das boas como das más notícias, a todas as partes do mundo.
O primeiro efeito do atentado no plano econômico já ocorreu. As bolsas de valores trazem para os preços dos títulos negociados toda a informação disponível a respeito do futuro. Na segunda-feira, as bolsas tiveram fortes quedas, indicando que as expectativas a respeito do desempenho das empresas no futuro se deterioraram.
Esse primeiro impacto não conta toda a história. Se os consumidores norte-americanos esperarem uma recuperação mais lenta da economia, ou, pior, uma queda na atividade econômica e um possível aumento do desemprego, comprarão menos. O consumo é o grande motor da economia dos Estados Unidos, e a expectativa de uma queda no consumo levará inexoravelmente a uma redução do lucro das empresas e, nessa cadeia de eventos, à queda dos investimentos.
A recuperação, já problemática, da economia americana, se materializada trará as consequências previsíveis sobre a economia mundial. Mais uma vez, a globalização dos mercados e a interdependência das economias contagiarão países distantes do atentado.
Como reagirão os gestores da política econômica brasileira diante do atentado em Boston? A experiência passada recomenda cautela nessa reação, já que o pior cenário descrito anteriormente pode não se materializar.
Mas se de fato a moral do povo americano cair diante da constatação da vulnerabilidade da superpotência, a reação da política econômica, aqui e alhures, pode ser esboçada.
Persistirão as políticas de injeção de liquidez nas economias desenvolvidas, já praticadas nos Estados Unidos, União Europeia e, agora, no Japão. As taxas de juros continuarão baixas no exterior, refletindo o aumento da liquidez. E as políticas fiscais vão continuar expansionistas com o propósito de evitar quedas ainda maiores na atividade econômica.
Se assim for, é possível que os sinais de aumento na taxa Selic em futuro incerto para conter a escalada da inflação sejam revertidos. A magnitude de um possível aumento na Selic, que já se esperava pequeno, pode simplesmente convergir para zero. Também aqui no Brasil a política fiscal persistirá expansionista, pela mesma razão que é expansionista nos Estados Unidos, na União Europeia e no Japão.
No nosso caso, é preciso atentar para o fato de que a inflação ultrapassou nos últimos doze meses o teto da meta, simultaneamente com um crescimento extremamente baixo. Concorrem para esse quadro econômico a pouca disposição das empresas para investir e a elevação do custo da mão de obra, na esteira do aquecimento do mercado de serviços.
É possível que o atentado em Boston não tenha raízes externas, e que tenha por origem algum grupo extremista dentro do próprio país. É possível também que as repercussões do ato terrorista se limitem à dor e à perplexidade das vítimas de mais essa manifestação de estupidez. É pelo que esperamos, até por já termos razões suficientes para nos preocupar.