Diário da Rússia

Aleksey Khovanov

Peterhof – Versalhes russo

Viagem fantástica aos palácios de Pedro o Grande

Peterhof! Quem nunca ouviu falar deste local maravilhoso nos arredores de São Petersburgo? Estou certo de que todos o conhecem. Pode-se dizer que a população russa se divide em duas categorias. Uns já visitaram Peterhof – e pretendem voltar. Outros ainda não visitaram o local, mas já ouviram muita coisa a respeito e sonham poder ver o descrito com os próprios olhos. E, vale admitir, Peterhof é tudo isso mesmo.

Os conjuntos de palácios de Pedro I, durante o verão, absorvem uma multidão dissolvida pela calma paz do lugar. São caravanas de carros e ônibus turísticos que, a 40 quilômetros por hora, trafegam pela estrada de quatro faixas tangenciando a residência de verão do Presidente da Rússia, o Palácio de Constantino, localizado entre a ex-capital russa e Peterhof. São as consecutivas voltas pelo estacionamento em busca de uma vaga que acaba de ser liberada. É a espera na fila do caixa. Tudo para finalmente mergulhar nas sombreadas alamedas dos Jardins Inferiores, onde é possível contemplar as esculturas douradas e em mármore dos chafarizes e cascatas artificiais. Sentir as gotas dos “chafarizes-de-brinquedo” (fontes disfarçadas) durante o sol do meio-dia. Visitar os apartamentos reais do Grande Palácio, se estiver com paciência de encarar a fila de umas duas horas. Conhecer Monplaisir, um palacete construído por Pedro I, de apenas três quartos e duas galerias de pintura flamenga. Entrar nas Casas de Banhos, com suas fontes escondidas, o Boudoir da Imperatriz Maria Aleksandrovna, o quarto de banho dos cavalheiros, com as balas de canhão dispostas ao lado do forno, nos quais se atirava água para produzir vapor.

A estátua de Netuno e uma cúpula de ouro de Peterhof, em São Petersburgo

Quando chega o inverno, entretanto, Peterhof, frequentemente chamado de Versalhes Russo, também guarda seus pequenos prazeres. Só o passeio pelos Jardins Inferiores já vale a visita durante o inverno, sem contar que a entrada nessa época do ano é grátis. No inverno, a natureza de Peterhof se transfigura.

É um lugar sem grupos de turistas e guias que sabem de tudo. Um mundo sem confusão, sem vendedores de água mineral, sorvete ou suvenires. É um mundo onde reinam a calma e a neve branca, que cobre as estátuas, os chafarizes e as árvores. Também é um mundo de esquilos que descem das árvores para comer sementes de cedro, queijo ou pão diretamente das mãos do visitante. O ar cristalino e frio enche o peito numa celebração da vida. Peterhof se localiza a 29 quilômetros de São Petersburgo, na beira do golfo da Finlândia. Foi nessa localidade que Pedro I embarcou para a ilha da Kotlin, onde estava sendo construído o Castelo de Kronstadt, com o objetivo de defender a futura capital do Império Russo dos ataques do Exército da Suécia, com quem o país estava em guerra. O imperador russo se encantou tanto com o local que, em 1711, resolveu deixar o seu primeiro palácio na beira do rio Strelka, o Palácio da Viagem, e se mudar para as margens do Báltico. A primeira construção na nova residência foi o palacete de madeira Monplaisir. Em 1714, em seu entorno, foram iniciadas as obras dos Jardins Inferiores e Jardins Superiores.Peterhof começou a crescer. No entanto, a sua transformação em obra de arte que é hoje durou quase 300 anos.

Hoje, quando se viaja de São Petersburgo para Peterhof, em ambos os lados da estrada podem ser vistos os castelos reformados, ou em processo de reforma, nas terras que Pedro I distribuiu entre os seus companheiros. Mais tarde, esses territórios seriam povoados pelas próximas gerações da nobreza russa, que ergueriam seus próprios monumentos. Entre estes, vale citar o Palácio de Constantino, residência dos Príncipes Romanov; o castelo do Príncipe Aleksander Lvov (descendente dos Rurik), o Parque Orlovsky, com o velho prédio da cavalariça, o Mosteiro Costeiro de São Sérgio, o Palácio Znamenka e o Parque Alexandria com a residência de verão do Imperador Nicolau I. Além disso, hoje podemos contemplar as vilas modernas, que lembram palacetes, erguidas nessa terra que, passados 100 anos, novamente custa muito caro.

Peterhof não é só o complexo do Grande Palácio que todos conhecem. Fazem parte dele obras-primas de arquitetura tais como a Catedral de Pedro e Paulo, erguida em 1903. Foi após uma missa nessa catedral que Nicolau II tomou a difícil decisão, que se mostrou fatal para a Rússia, de cumprir os compromissos com seus aliados e entrar na Primeira Guerra Mundial. Temos também o Palácio Belvedere e as Cavalariças Reais em estilo pseudogótico, onde ficavam 328 cavalos, com um estádio de equitação coberto e a administração.

Peterhof, hoje, é praticamente uma cidade à parte, com 70 mil habitantes, apesar de ser considerado um bairro de São Petersburgo. O bairro tem sido adotado por diversas construtoras para novos empreendimentos, que imitam em sua maioria o estilo clássico dos arredores.

Além dos monumentos de arquitetura, o complexo é famoso por monumentos industriais. Assim, em 1744 ali foi fundada a mais antiga fábrica de porcelana do Império Russo. A qualidade dos produtos dessa fábrica não deixava a desejar, mesmo em comparação com a porcelana saxônica. A composição da porcelana produzida em Peterhof se assemelhava à chinesa. A fábrica abriga hoje um excelente museu, fundando em 1801 pelo Imperador Nicolau I, que se orgulhava do seu acervo, resultante de mais de 260 anos de produção.

Ainda mais antiga é a fábrica de relógios de Peterhof, fundada em 1721 por Pedro I. Vale destacar que a instituição, antes de produzir relógios, fabricava joias de pedras preciosas para a Família Real. Essa história pode ser conhecida mais a fundo ao visitar o museu, sediado na fábrica.

Antes de passar para os detalhes da logística de como se chegar a Peterhof, vale ressaltar: uma única visita é muito pouco.

Uma das opções para se chegar a Peterhof é o trem urbano que pode ser tomado na Ferroviária Báltica (estação de metrô Ferroviária Báltica), em São Petersburgo. Aí o visitante deverá adquirir uma passagem para a estação Novo Peterhof. A viagem dura 45 minutos. O inconveniente dessa opção é a necessidade de ainda pegar um ônibus na estação Novo Peterhof para chegar ao parque (números 350, 351 e 352). Saltamos no quinto ponto de ônibus e chegamos lá. Para evitar a baldeação, a opção é pegar o ônibus 424, que parte da estação de metrô Avtovo, ou uma van que pare no parque ao lado da Ferroviária Báltica.

Uma alternativa mais romântica é o transporte aquático. Um hidrofólio parte da Margem dos Palácios ou da Margem Inglesa e sempre trafega até o píer do Jardim Inferior de Peterhof.

Aliás, na área do Jardim Inferior funcionam alguns restaurantes e cafeterias. Alguns deles oferecem as trutas ou esturjões que podem ser pescados na hora, na lagoa do Palácio Marly. Não posso deixar de mencionar, entretanto, que os preços são bem altos. Quem procura algo mais em conta deve andar cerca de 50 metros além das grades do Jardim Superior para encontrar alguns estabelecimentos com preços consideravelmente mais baixos.

O visitante que se encantar com as vistas invernais de Peterhof poderá ficar por mais de um dia. Na região existem bons hotéis (Novo Peterhof, Samson e Grand Peterhof). Uma noite custará cerca de 2,8 mil rublos (cerca de 100 dólares), o que é muito mais barato do que na alta temporada, quando os preços saltam para a faixa de 5,1 mil rublos (180 dólares).

[Este artigo foi publicado originalmente no portal da agência RIA Novosti]

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