Andrey Budaev

O bicentenário do Consulado Geral Russo no Rio de Janeiro

As relações diplomáticas oficiais entre a Rússia e o Brasil foram estabelecidas em 1828 – em 2008, comemoramos os 180 anos do feito

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É notável que o Brasil tenha sido o primeiro país latino-americano reconhecido pela Rússia. Relações russo-brasileiras percorreram um longo e difícil processo, que inclui contatos políticos, comerciais, culturais e científicos. O desenvolvimento dessas relações foi interrompido em 1917 após a Revolução Socialista na Rússia. E somente em 1945 o Brasil reconheceu a União Soviética.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética e o Brasil lutaram juntos na coalizão antifascista, e depois se tornaram membros da ONU. Depois da guerra, essas relações foram influenciadas pela Guerra Fria, confronto entre duas superpotências, e em 1947 interrompidas. Só em 1961 a URSS e o Brasil restauraram relações diplomáticas.

Um renascimento notável do diálogo político entre os dois países e uma expansão do comércio e da cooperação econômica se relacionam com os anos 80 do século passado. No Brasil, esses processos foram associados ao início das mudanças democráticas.

Após o colapso da União Soviética e o estabelecimento direto das relações entre a Federação da Rússia e o Brasil iniciou-se uma nova fase de cooperação. Na segunda metade da década dos anos 90, o Brasil se tornou um parceiro principal para a Rússia na América Latina. Na etapa atual nossos países são parceiros estratégicos, nossas relações se tornaram mais intensas e diversificadas. A cooperação se desenvolve não apenas de forma bilateral, mas também multilateral, inclusive no BRICS.

Entretanto, voltando ao processo de formação das nossas relações, pode-se afirmar que a História é mais antiga e interessante. Em particular, estamos falando que, segundo o calendário antigo russo, em 18 de julho, e de acordo com o calendário novo, em 30 de julho de 2011 se completam 200 anos desde o estabelecimento de um Consulado Geral russo no Rio de Janeiro, que foi o primeiro não só no Brasil mas em toda a América Latina.

A história testemunha que em 1807, escapando ao avanço das tropas de Napoleão, o Príncipe Regente de Portugal D. João fugiu para o Brasil, e a capital de Portugal foi transferida temporariamente de Lisboa para o Rio de Janeiro. Alguns anos mais tarde, em julho de 1811, por decreto do Imperador russo Alexandre I, o Duque Von der Palen foi nomeado para a Corte Portuguesa no Rio de Janeiro como enviado especial russo (Ministro Plenipotenciário).

Dando um valor significativo ao desenvolvimento das relações comerciais com o Brasil, o governo russo, segundo fontes do Arquivo da Política Externa do Império Russo, decidiu inaugurar o Consulado Geral no Rio de Janeiro. Para o cargo de Cônsul e Vice-Cônsul foram nomeados os irmãos Ksaveriy e Michael Labenskiy, que chegaram ao Brasil antes da missão imperial encabeçada pelo Duque Von der Palen, e dessa maneira se tornaram os primeiros representantes oficiais russos no Rio de Janeiro.

Vale destacar que a instrução do Colégio Estatal dos Negócios Estrangeiros da Rússia editada no dia 11 de agosto orientou o Cônsul Geral K. I. Labenskiy a contribuir por todos os meios para o desenvolvimento do comércio russo-brasileiro e explorar as possibilidades do mercado brasileiro e a demanda por bens tradicionais russos.

Assim, a criação do primeiro Consulado Russo no Rio de Janeiro, em julho de 1811, pode ser considerada um passo inicial e importante no processo de formação das relações russo-brasileiras.

O Brasil permaneceu como centro do Império Português até 1821. Em abril daquele ano, em conexão com os acontecimentos revolucionários em Portugal, o Rei D. João VI, a pedido das Cortes Portuguesas, saiu do Rio de Janeiro e retornou a Lisboa, deixando seu filho Pedro como regente do Brasil. Em abril de 1821 a missão russa se mudou também para Lisboa. Desde a partida do Rio de Janeiro até novembro de 1827, a Rússia e o Brasil mantiveram relações somente consulares. Além do Consulado Geral no Rio de Janeiro, nesse período os consulados nas províncias de Pernambuco e Bahia funcionavam como extranumerários.

O importante papel no desenvolvimento das relações russo-brasileiras e no estudo do Brasil foi desempenhado por Georg von Langsdorff, que chegou ao Rio de Janeiro como Cônsul Geral da Rússia em 1812. De 1821 a 1828 ele realizou uma grande expedição de reconhecimento do interior do Brasil. Cientistas, botânicos e naturalistas fizeram parte dessa expedição, que em oito anos cruzou o país, partindo da Fazenda Mandioca, no Rio de Janeiro, e chegando até Belem, no Pará. O resultado da expedição foi a produção de mais de duas mil paginas de anotações manuscritas, além de diários, desenhos, aquarelas e registros cartográficos. Essa foi internacionalmente considerada como uma das mais importantes expedições científicas do século XIX.

Para as pessoas que estão interessadas naquele período de desenvolvimento do Brasil e das relações russo-brasileiras, eu recomendaria o livro e as pesquisas do famoso cientista russo Boris N. Komissarov (nascido em 1939), Doutor em Ciências Históricas, Professor Titular da Universidade Estatal de São Petersburgo, autor de aproximadamente 200 obras, principalmente sobre a História do Brasil e as relações russo-brasileiras. Entre outros livros, "S. Petersburgo – Rio de Janeiro. Formação das Relações. 1808-1828" (Leningrado, 1987), "Da Sibéria à Amazônia: a Vida de Langsdorff (Brasília, 1992), "Expedição Langsdorff – Acervo e Fontes Históricas" (São Paulo – Brasília, 1994), "História da Expedição Langsdorff no Brasil" (São Paulo, 1996).

São de interesse comum as obras de nosso compatriota o Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Alexandre Zhebit, sobretudo o livro “Brasil-Rússia: História, Política, Cultura”, da série BRICS, preparado por um grupo de autores russos e brasileiros.

Se falamos da História contemporânea das relações russo-brasileiras, a nossa representação consular no Rio de Janeiro foi inaugurada em 1973. O acordo sobre a inauguração da agência consular foi formalizado por troca de notas entre a Embaixada da URSS no Brasil e a Secretaria de Estado das Relações Exteriores do Brasil no dia 22 de setembro de 1972. No dia 31 de maio de 1973 a Embaixada enviou ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil uma nota sobre a nomeação do Sr. V. P. Novikov como agente consular.

A fim de levar o nível da representação consular em conformidade com o volume crescente e o caráter intenso das relações, em outubro de 1990 os governos de ambos os países chegaram a um acordo sobre a transformação da agência consular em Consulado Geral. Agora o distrito consular de nosso Consulado inclui sete Estados brasileiros: Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas.

Na etapa atual os nossos países são parceiros estratégicos, nossas relações se tornaram mais intensas, diversificadas. Cooperação se desenvolve não apenas no formato bilateral, mas também multilateral, inclusive BRICS.