Andrey Budaev
Os ícones ortodoxos russos
Exposição no Rio de Janeiro reúne significativos exemplos da arte religiosa da Rússia
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O ícone russo é a principal expressão da espiritualidade do povo russo, refletindo a originalidade e a grandeza da civilização russa, encarnadas no conceito da Santa Rússia.
Com o aparecimento da Ortodoxia na Rússia Kievana, começaram a ser criados os ícones russos. O século XV é a idade de ouro da pintura desses ícones. Formam-se várias escolas: a de Novgorod, de Vladimir, de Suzdal, de Yaroslavl, de Moscou e de Pskov. Sabe-se que a pintura da Rússia Antiga alcançou o seu auge na obra de Andrei Rublev. Os seus ícones “Trindade” e “Apóstolo Paulo” são conhecidos por todo o mundo.
Diferentemente da pintura religiosa ocidental, o ícone russo não é retrato nem pintura, mas sim “um fenômeno celeste”, “semelhança do Divino”. Ele não tem nada leigo (secular) e físico (corporal, material), as suas imagens abstratas representam o mistério do invisível, criam uma possibilidade sobrenatural de aproximação com Deus.
Ícones são tradicionalmente dedicados a temas bíblicos. Apesar dos cânones rigorosos que o pintor de ícones tem que seguir, os autores conseguiram transmitir em suas obras o ambiente daquela época e a sua própria emoção. O sentimento mais elevado sobre o homem, sua beleza, inteligência e qualidades espirituais refletiu-se na imagem dos santos. A cor é uma técnica mais expressiva na pintura dos ícones, que ajudava a descrever a esperança do milagre.
É difícil sobrestimar o sentido e o significado do ícone russo. É uma história sobre eternidade, sobre aspiração para cima (para o céu). É também símbolo de aspiração ao elevado, apelo para o aperfeiçoamento ilimitado.
Essa é a essência da pintura de ícones russa. Contudo, a palavra “russa” refere-se à forma e não ao conteúdo, pois o Evangelho e os ícones estão voltados a toda a humanidade. Os crentes ortodoxos russos exprimiram essa ideia com seu jeito, o talento puramente russo.
Alguns ícones ortodoxos russos são considerados milagrosos, ou seja, respeitados como fonte de vários milagres: mais frequentemente, remédios contra doenças, ajuda durante a guerra, nos incêndios, etc. Segundo a Igreja, a fonte de ações milagrosas é a felicidade de Deus, que faz efeito através do ícone. Cerca de mil ícones que ganharam sua fama deste modo, gozam de maior estima na Igreja Ortodoxa. Esses são principalmente os ícones de Nossa Senhora. Uma das formas populares de milagres relacionados com ícones é o seu Mirotochenie – aparecimento de líquido oleoso, a mirra, na superfície de um ícone, que representa uma substância clara e oleosa que emite aroma.
A pintura da Rússia Antiga ganhou fama internacional. Exposições de ícones russos foram realizadas em várias países do mundo, inclusive na América Latina. Ícones são uma chave para a compreensão da pessoa ortodoxa russa e da sua alma.
Hoje, numa época difícil, numa situação em que catástrofes industriais e calamidades vão se tornando cada vez mais frequentes, e em que a humanidade vai enfrentando novas epidemias e doenças e existem ameaças de terrorismo internacional, as pessoas vão pedindo ajuda e salvação mais frequentemente à religião e ao ícone, como principal expressão de espiritualidade e felicidade.
A partir desta quarta-feira, 22 de março, no edifício da Academia Brasileira de Filosofia (Rua Riachuelo, 303 – Lapa – Casa de Osório, Rio de Janeiro, tels. 2252-8593, 2252-8551, [email protected], [email protected]), estará aberta a exposição de ícones ortodoxos russos preparada pelo Patriarcado de Moscou da Igreja Ortodoxa Russa, a Paróquia da Santa Mártir Zenaide e o Consulado Geral da Rússia no Rio de Janeiro. Esperamos que essa exposição seja uma contribuição modesta mas digna para a cooperação cultural e humanitária entre a Rússia e o Brasil e fomente a melhor compreensão e aproximação entre os cidadãos dos nossos países.