Diário da Rússia

Andrey Budaev

O Dia da Grande Vitória

Nos dias 8 e 9 de maio, na Rússia, nos países da Europa, América e em todo o mundo civilizado comemora-se a festa da Vitória sobre o fascismo (1945)

No calendário russo de datas memoráveis, o 9 de Maio ocupa um lugar especial. Ainda atualmente – após 67 anos – não podemos encontrar em todo o país uma única família que não tenha perdido parentes e seres queridos. A dolorosa prova que caiu sobre a população da União Soviética revelou a grandiosidade do espírito humano e manifestou numerosos exemplos de heroísmo pessoal e verdadeiro patriotismo. Por essa razão a guerra é chamada em nossa história da Grande Guerra Patriótica.

A celebração dessa data tem uma significância simbólica para o Estado e também para seus cidadãos. Como nunca em sua História, naqueles dramáticos anos da guerra, os destinos do nosso grande país e do nosso povo tornaram-se mais entrelaçados. Para muitos, especialmente os veteranos, é um dia pessoalmente sagrado, mas os veteranos, infelizmente, estão nos deixando. Uma memória eterna daqueles que pereceram defendendo a Pátria contra a praga do século 20, aqueles que morreram dos ferimentos da guerra, nas prisões ou nas cidades sitiadas. Também perduram as lições que a comunidade mundial aprendeu com aqueles eventos, que não perderam sua relevância nos dias de hoje.

Aquela guerra foi a mais destrutiva e letal na História da Humanidade. Na União Soviética, o total de perdas humanas, incluindo a população civil, foi de 26,6 milhões de pessoas. Cifra terrível, quando só uma vida humana já é inapreciável.

No decorrer da Segunda Guerra Mundial, na sua luta contra o fascismo, o povo soviético teve apoio e assistência de outros países. A coalizão anti-hitlerista tornou-se um exemplo do esforço de países de diferentes ideologias e sistemas políticos no enfrentamento de um inimigo comum e mortal.

O núcleo da coalizão anti-hitlerista incluía, além da União Soviética, a Grã-Bretanha, a França e os Estados Unidos. A partir de 1943, da coalizão anti-hitlerista também fez parte o Brasil. A nação brasileira perdeu naquela guerra – sobretudo nas ações de combate nas frentes da Itália – 1.889 homens. Foram afundados 34 de seus navios e abatidos 22 de seus aviões.

Hoje, 67 anos depois, não há necessidade de simplificar ou embelezar a História. Cada um dos países da coalizão anti-Hitler buscou suas metas e seus interesses nacionais. Alcançar credibilidade mútua não foi fácil. Mas, ainda assim, os participantes da coalizão lograram manter-se acima de suas diferenças e colocaram de lado tudo o que era secundário para priorizar a vitória como principal objetivo. Essa lição em sua total extensão mantém sua relevância até os dias de hoje.

Aqueles que hoje questionam a significância da vitória e o papel que nosso país desempenhou para esta vitória estão certamente esquecendo-se de que, sem a nossa participação, esses países teriam sido provavelmente varridos do mapa.

As forças de Hitler tiveram suas maiores perdas nas batalhas contra o Exército Vermelho: 70 % dos seus soldados e 75% do seu equipamento militar.

Apesar disso, nós não dividiamos a vitória em percentuais em 1945, e nem a dividimos agora. Todos os aliados da coalizão anti-Hitler venceram a Segunda Guerra Mundial. Foi nossa vitória coletiva. Mas ninguém tem o direito de subestimar o preço que nossa nação e nosso povo pagaram pela guerra e diminuir a dimensão das atrocidades e crimes dos nazistas, ou nem mesmo torná-los heróis.

O principal resultado da guerra é a vitória das forças da construção e civilização sobre as forcas da destruição e barbarismo, a Vitória da Vida sobre a Morte.

A experiência da irmandade internacional na luta durante os anos da guerra assume significância relevante no contexto contemporâneo quando vivemos um desafio global para a humanidade, desta vez com o terrorismo internacional, que não é menos perigoso e ameaçador que o fascismo. E não menos cruel: milhares de pessoas inocentes tornaram-se suas vítimas.

As lições da Segunda Guerra Mundial parecem ser menos relevantes sob o ponto de vista da construção dos padrões mundiais do pós-guerra. O resultado da guerra exerceu uma profunda influência no desenvolvimento das relações internacionais. Ainda hoje, quando vivemos em um mundo muito diferente, os elementos dos acordos do pós-guerra para a Europa e todo o mundo mantêm uma enorme significância para a causa da manutenção da paz e segurança em nosso planeta.

O enorme esforço para liberar a humanidade da calamidade da guerra inspirou as nações da coalizão anti-Hitler a fundarem a ONU – Organizacão das Nações Unidas. A Carta da ONU tornou-se uma referência básica para as leis internacionais contemporâneas e um código de conduta fundamental para estados e organizações internacionais. Os princípios da Carta das Nações Unidas, que resistiram ao teste da Guerra Fria, são hoje as bases para modelar um padrão novo e seguro para o mundo numa era de globalização.

Comemorando o Dia da Vitória, é importante mencionar o processo de Nuremberg. Em agosto de 1945, Grã-Bretanha, França, Estados Unidos e a então União Soviética assinaram um acordo criando o Tribunal que acabou sendo instalado na cidade de Nuremberg, na Alemanha. Os juízes e promotores públicos que atuaram no julgamento tinham origem nesses quatro países. As regras que definiram quais dos crimes seriam julgados, assim como as regras para os processos e para o julgamento, foram estabelecidas através da Carta de Londres. Proferindo uma sentença condenatória aos principais criminosos nazistas, o Tribunal Militar Internacional classificou a agressão como crime gravíssimo de caráter internacional. Os Julgamentos de Nuremberg são uma marca da maior importância na História da Civilização Mundial. As suas normas judiciais e morais consolidaram-se na consciência da sociedade. O processo e a sentença final foram uma resposta adequada aos crimes sem precedentes contra a paz e a humanidade.

É simbólico que a Organização das Nações Unidas, a partir da iniciativa da Rússia e de outras nações da Comunidade dos Estados Independentes, ex-repúblicas da União Soviética, tenha designado as datas de 8 e 9 de maio como os Dias da Memória e Reconciliação. É muito importante que esses dias sagrados contribuam para a unificação de todas as nações e povos e sirvam para reforçar nossa solidariedade frente aos desafios globais do século 21.

O aniversário da Vitória é acima de tudo um tributo à memória e uma profunda gratidão àqueles que sustentaram a independência de nossa pátria e trouxeram a esperada liberação dos povos da Europa escravizados pelo fascismo.

As comemorações do aniversário devem servir como uma lembrança do enorme potencial espiritual que a Rússia e o povo da Rússia possuem. Nesse contexto, a história da Grande Guerra Patriótica é para nós uma interminável fonte de força e confiança no futuro.

Para todas as pessoas de bem o Dia da Vitória permanecerá para sempre como um brilhante e sagrado dia.

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