Diário da Rússia

Carlos Serapião Jr.

Crowdfunding

No Brasil e na Rússia a grande imprensa e a política ainda não acordaram para o tema

Em Nova York, em novembro passado, jantando com dois amigos no Smith & Wollensky, uma das melhores steakhouses do mundo, numa casa de dois andares em plena floresta de arranha-céus da 49th Street com Third Avenue, fui apresentado a um tema até então desconhecido por mim: crowdfunding (financiamento coletivo). Entre garfadas de um steak que derretia na boca e goles de um vinho tinto tão bom que esqueci o nome, fui digerindo com crescente interesse o que esses dois amigos iam dizendo a respeito da “próxima febre especulativa dos Estados Unidos”, como foram as estradas de ferro no início do século XX e as empresas “ponto com” em meados da década de 1990.

 

Em abril de 2012, o Presidente Obama assinou o JOBS Act (Jumpstart Our Business Startups Act), uma lei determinando novas modalidades de financiamento de empresas. Não dá para resumir seu conteúdo aqui, mas destaco dois aspectos: primeiro, o fim da proibição, desde 1993, de se anunciar publicamente que se está levantando capital para algum negócio; segundo, a definição do crowdfunding como nova modalidade de investimento.

Num estudo recente do Banco Mundial sobre crowdfunding, contaram-se 17 websites de crowdfunding no Brasil, 53 na França, 87 no Reino Unido e 344 nos Estados Unidos, entre outros países. No link http://www.infodev.org/infodev-files/wb_crowdfundingreport-v12.pdfsegue o relatório do estudo.

Há duas formas básicas de crowdfunding: doação ou investimento. A primeira tem servido para se pedir dinheiro via Internet em prol de causas sociais, projetos artísticos, educacionais, etc. Quem quiser doa e, em alguns casos, é recompensado com algum presente tipo bonezinho, chaveiro. etc. Já o “investment crowdfund” tem sido usado para financiar startups e pequenos negócios, seja mediante venda de quotas do negócio ou empréstimo a juros.  

Há um ano, havia poucas menções ao tema na imprensa americana. Hoje, está virando bola da vez, ao menos na comunidade ligada ao financiamento de startups, no Vale do Silício (onde se concentra boa parte do venture capital existente no mundo). Aliás, é irônico que eu tenha tomado conhecimento do assunto num restaurante frequentado pela nata de Wall Street, pois o crowdfunding promete abalar grandes interesses justamente lá. No Brasil, embora já haja gente se mexendo para aproveitar essa onda, a grande imprensa e a política ainda não acordaram para o tema, tampouco na Rússia. E espero que o artigo tenha justificado o título apelativo, algo necessário nos tempos atuais.

 

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