Diário da Rússia

Dmitry Babich

Intrigas em torno do serviço de inteligência americano na Líbia

Podem ser chamados de combatentes pela liberdade aqueles que matam cidadãos americanos?

Os representantes oposicionistas do Partido Republicano dos Estados Unidos exigem da Casa Branca respostas para a questão da morte do embaixador americano na Líbia, Chris Stevens. Sob uma chuva de perguntas, os representantes da administração presidencial pararam de tratar o ataque ao consulado em Benghazi como um fato acidental do protesto contra o filme anti-islâmico “A Inocência dos Muçulmanos”. É reconhecido que se trata de um ato terrorista planejado por parte dos islamitas – provavelmente da organização Al-Qaeda dos Países do Magreb e outros grupos islamitas. A informação é do “Washington Post”.

Ao mesmo tempo, ocorre uma investigação de todos os novos detalhes das atividades da inteligência dos Estados Unidos na Líbia. Acontece que o Consulado em Benghazi, onde morreu o embaixador americano, era usado pela CIA na realização de operações de inteligência. Isso foi informado em detalhes pelo "The New York Times". O jornal também informou sobre um grande número de agentes da CIA que tiveram que sair do país. O número de agentes dos Estados Unidos surpreendeu até mesmo o primeiro-ministro da Líbia, Mustafa Abushagur. Ele disse que a escala da presença americana só se tornou clara quando “os americanos em retirada apareceram no aeroporto em um número muito grande”.

Agora os americanos têm um problema com a inteligência na Líbia. O “New York Times” citou um oficial da inteligência dos Estados Unidos que preferiu ficar anônimo, dizendo: “Nós simplesmente tivemos os olhos abetos.”

James Lamond, especialista em terrorismo e diretor de pesquisa do National Security Network, afirma:

“Foi, naturalmente, um fracasso. Do pessoal da Embaixada, havia pelo menos uma dúzia de agentes da CIA entre os que tiveram de ser evacuados da missão diplomática. Eles trabalhavam numa série de direções. Estimavam, por exemplo, o número de grupos armados ilegais e a quantidade de armas desaparecidas deixadas para trás após Kadhafi. Eles nos ajudaram também a compreender os grupos mais extremistas, que se formaram após a queda de Kadhafi.”

São muitos os que se surpreendem com essa história. Por que os agentes americanos, que ouviram conversas telefônicas líbias e interceptaram e-mails, não conseguiram informar o mais importante aos seus superiores? E o mais importante é o fato de que muitos dos rebeldes líbios que derrubaram Kadhafi foram os próprios extremistas islâmicos. E as pessoas ligadas a eles pelas autoridades em Trípoli foram favoráveis ao extremismo desde o começo. Isso vem sendo feito abertamente, e para saber disso não precisava nem escutar as conversas telefônicas de alguém.

Aqui está uma declaração recente do ex-número dois do Conselho Nacional de Transição – o recente ex-primeiro-ministro da Líbia revolucionária, Mahmoud Yibril. A afirmação foi feita numa conferência no Cairo, poucos dias após o assassinato do embaixador americano Stevens:

“No diálogo nacional ninguém deve ser excluído, nem os salafistas nem a Al-Qaeda ou Ansar al-Sharia.”

Vamos lembrar que Yibril, com o seu Conselho Nacional, foi levado ao poder pelas potências ocidentais – em primeiro lugar, a França, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos. Para facilitar sua vitória, eles bombardearam posições de Kadhafi. E agora esse homem convoca organizações declaradamente terroristas – Al-Qaeda e Ansar Al-Sharia – para participar na construção do novo Estado da Líbia.

Lembremos: justamente os grupos denominados Al-Qaeda no Magreb Islâmico e Ansar al-Sharia são acusados hoje pelos americanos ??de matar o embaixador americano.

James Lomand comenta:

“Os grupos que nos causaram maior preocupação do ponto de vista da segurança foram Ansar Al-Sharia e Al-Qaeda no Magreb Islâmico. Justamente contra esse grupos estão direcionadas as buscas do inquérito. Nós os consideramos os mais extremistas.”

O “Washington Post” nota que a história do assassinato do embaixador americano na Líbia é um dos pontos mais vulneráveis do Presidente Barack Obama na atual campanha eleitoral. E é neste ponto que os críticos do presidente têm argumentos fortes. Agora, Hillary Clinton declara que após as revoluções árabes “os terroristas obtiveram um campo mais amplo de manobra e possibilidade de se esconder onde querem”.

Os críticos podem se perguntar: vale a pena apoiar a revolução na Líbia ou na Síria, se depois os terroristas vão se sentir à vontade? E podem ser chamados de combatentes pela liberdade aqueles que matam cidadãos americanos?

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