Dmitry Babich
A derrota inesperada de Mikhail Saakashvili na Geórgia
Presidente do país admitiu a vitória da coalizão de oposição Sonho Georgiano
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Tiveram um resultado inesperado as eleições legislativas na Geórgia, um pequeno país pós-soviético no Cáucaso do Sul, com uma população de 4,5 milhões de habitantes e um presidente abertamente pró-ocidental que desde a sua chegada ao poder em 2004 tentou cortar todas as relações com a Rússia.
O partido governante, o Movimento de Unidade Nacional, liderado pelo todo-poderoso Presidente Mikhail Saakachvili, contava vencer com um bom resultado. Acontece que o futuro de Saakachvili depende dessas eleições. O segundo mandato presidencial termina em 2013, e a Constituição não permite uma terceira candidatura. O atual Parlamento, leal ao presidente, já se encarregou de alterar a principal lei do país para que Mikhail Saakashvili possa continuar no leme do país depois de 2013, ainda que em outro cargo, como presidente do novo Parlamento. Mas agora surge este “imprevisto”, uma verdadeira afronta: o Movimento de Unidade Nacional não deverá obter mais de 42% dos votos. Ao mesmo tempo, o bloco de oposição, O Sonho Georgiano, liderado pelo milionário Bidzina Ivanishvili, alcança 53%. Bidzina Ivanishvili já anunciou a sua intenção de ser primeiro-ministro.
Após ter deixado de pertencer à União Soviética, a Geórgia seguiu, em escala reduzida, um caminho idêntico ao de muitos países latino-americanos. Os presidentes no novo país independente mudavam apenas como resultado de golpes de Estado ou da pressão de ações de rua, inspiradas por “fundações de beneficência” americanas. Foi desta forma que o Presidente Zviad Gamsakhurdia foi deposto por um golpe de Estado em 1991. O atual presidente chegou ao poder em 2003, como resultado de manifestações de rua e da chamada Revolução das Rosas, tendo obtido nas eleições em seguida 96% dos votos. A Geórgia, enquanto país independente, não teve mais presidentes. As eleições atuais também não poderão ser consideradas ideais no que diz respeito aos procedimentos. Não obstante, o êxito da oposição incute alguma esperança numa mudança legítima do poder, algo sem precedentes na História do país.
Mikhail Saakashvili já anunciou que o seu partido passa para a oposição, e que esta não tenciona deixar escapar a vitória. Teimuraz Chengueli, lider do Movimento Voz da Geórgia – Por Eleições Honestas, disse: “Já temos as atas das mesas eleitorais, e todas as tentativas de alterar os resultados levarão a fortes convulsões. Esta é uma vitória histórica, visto que nos últimos oito anos o país não tinha oposição. Ela existia formalmente, mas não conseguia competir a sério com o poder.”
Os Estados Unidos e os países da União Europeia, que apoiaram Mikhail Saakashvili na guerra na Ossétia do Sul em 2008, que levou à intervenção da Rússia, provavelmente irão anunciar o que aconteceu como uma vitória da democracia na Geórgia. Só que, na realidade, a vitória ainda está longe. O Presidente Saakashvili, cujas competências ainda não foram reduzidas, continuará sendo o dono da Geórgia ainda durante alguns meses. Num país do Cáucaso, mesmo em tão pouco tempo, muita coisa pode mudar. Uma coisa é certa: a política ultraliberal de Mikhail Saakashvili, que transformou em poucos anos a economia georgiana de acordo com o modelo americano, foi um fracasso.
A privatização completa do sistema de saúde e de educação, a liquidação da ciência e da indústria, com aposta numa economia do turismo – tudo isso provocou a indignação da maioria da população. Os analistas ocidentais costumam comparar a Geórgia com a revolucionária Cuba, mas, na verdade, seria melhor compará-la com a Argentina do tempo do ministro das Finanças Domingo Caballo ou com o Chile nos últimos anos de governo de Pinochet. O resultado é igual em qualquer lado: a derrota nas primeiras eleições mais ou menos justas.