Dmitry Babich
Tensão entre Síria e Turquia
Um jogo perigoso e sem objetivos definidos
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A Turquia e outros membros poderosos da OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte têm-se envolvido em um jogo perigoso com a guerra na fronteira turco-síria, o que é muito perigoso.
Turquia e OTAN parecem estar indecisas sobre o que pretendem atingir nesta guerra. Pior, elas parecem estar indecisas em saber qual delas será a primeira a iniciar a guerra. Certamente, esta é uma má notícia. Guerras em que as partes envolvidas não têm certeza dos seus objetivos tendem a ser as mais sangrentas.
Por que estamos falando sobre a Turquia, em primeiro lugar? O trágico incidente da quarta-feira, 3 de outubro, em que um morteiro foi disparado a partir do território sírio matando cinco pessoas na Turquia, é pouco provável para servir como um grave “caso de guerra’. Especialmente para uma área na qual mais de 20 mil pessoas foram mortas em 2011.
A simples idéia de que a Síria, um país em estado de guerra civil com um exército várias vezes menor do que o turco, poderia iniciar uma agressão contra a Turquia é absurda. Neste contexto, parecem hipocrisia as declarações de apoio da sede da OTAN, com a garantia de que a Aliança Atlântica vai proteger a Turquia contra uma possível agressão síria.
Um tiro de morteiro é pouco para ser caracterizado como uma agressão entre dois Estados independentes. O que é preciso saber é: quais foram as razões que determinaram aquele disparo?
No entanto, a Turquia respondeu com uma carga de fogo contra o território da Síria, precisamente contra a área da qual o morteiro foi lançado. Rapídamente, o parlamento turco deu poderes ao governo para mobilizar as forças armadas e realizar operações militares trans-fronteiriças. Tudo isso aconteceu mesmo com o governo da Síria tendo pedido desculpas pelo incidente.
Por que dizemos que a Turquia está indecisa? Porque logo após o Parlamento autorizar as operações militares transfronteiriças as autoridades turcas emitiram uma declaração especificando que esta aprovação não deveria ser vista como uma possível declaração de guerra contra a Síria.
Ao iniciar uma série de bombardeios contra a antiga Iugoslávia, a ex-secretária de Estado dos Estados Unidos, Madeleine Albright, declarou:
“Eu não falo sobre uma determinada guerra, eu falo sobre o uso da força. Eu penso que há uma distinção muito importante. Guerras modernas, especialmente aquelas iniciadas por potências da Organização do Tratado do Atlântico Norte, raramente são anunciadas oficialmente. Isso as torna ainda mais perigosas, pois fica claro a quem compete a responsabilidade pela escalada das hostilidades e da violência.”
Esse foi o caso na antiga Iugoslávia e, mais recentemente, na Líbia, onde a OTAN participou de guerras não declaradas. Uma situação semelhante na Síria poderá levar a consequências trágicas. Porque uma guerra na Síria poderá se estender para outros territórios, como, por exemplo, os territórios curdos na Turquia, ou até mesmo para os vizinhos Irã e Iraque.
Se a Turquia iniciar um conflito militar com a Síria, poderá deflagrar uma outra grave tensão no Curdistão iraquiano, observa Stanislav Tarasov, um dos principais especialistas russos na Turquia. Tarasov diz ainda que as relações entre os políticos e militares turcos estão passando por uma crise, e essa situação só pode piorar o panorama. Os militares, que costumavam estar no centro do sistema político turco, estão perdendo rapidamente o seu status. Nessa situação, os militares não estão dispostos a se envolver em uma guerra.
A Turquia está diante de uma escolha: tentar uma intervenção militar na Síra, ativamente apoiada pelo Qatar e pela Arábia Saudita, ou voltar atrás e permitir que as partes em conflito na Síria encontrem uma solução negociada.
A Rússia tende a apoiar a segunda opção. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, classificou de trágico acidente o episódio envolvendo Síria e Turquia, e mais uma vez pediu pela paz no país e por uma solução diplomaticamente negociada, tanto entre os dois países como entre o governo sírio e os seus grupos opositores.”
O vice primeiro-ministro da Turquia, Besir Atalay, disse que a Síria se desculpou pelo incidente e prometeu se empenhar para que tragédias como a da quarta-feira, 3 de outubro, não se repitam. Então, a crise atual pode produzir consequências benignas: tendo chegado à beira do precipício, as partes em conflito se afastarão da pior das soluções – uma intervenção militar deflagrada contra a Síria.”