Dmitry Babich
Por que a Turquia quer guerra com a Síria
Imprensa internacional discute as razões para a deflagração de um conflito entre os dois países
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A situação na fronteira da Turquia com a Síria está cada vez mais perigosa. Na segunda-feira, 8 de outubro, a artilharia turca respondeu com uma bateria de fogo a mais uma série de morteiros disparados do lado sírio contra o seu território. Os explosivos lançados pelos sírios caíram a uma distância de 150 a 200 metros do território turco. Em consequência das sucessivas agressões, que haviam começado na semana anterior, o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayip Erdogan, convocou o povo turco para se preparar para a guerra.
Por sua vez, a imprensa internacional, atenta aos conflitos entre Síria e Turquia, acompanha com grande interesse os desdobramentos da crise. Analistas independentes dizem não acreditar nas declarações da OTAN, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, de que uma guerra entre Síria e Turquia é muito pouco provável. O exército turco, duas vezes mais forte do que o sírio, e muito mais bem equipado por contar com as mais recentes e poderosas armas fabricadas no Ocidente, está obviamente preparado para executar ações ofensivas.
Mas quais são os verdadeiros propósitos e motivos que estão levando a Turquia para a guerra contra a Síria? Vamos acompanhar o que dizem alguns dos principais órgãos da imprensa mundial.
O jornal “Hurriyet”, da Turquia, afirma:
“A Turquia está apoiando o Exército Livre da Síria, o principal grupo opositor ao Presidente Bashar al-Assad, não porque deseja vê-lo simplesmente longe do poder, mas para que possa assumir total controle sobre a região de fronteira entre os dois países. O que a Turquia quer, na verdade, é manter controle total sobre os curdos que habitam essa região de fronteira e merecem do governo turco atenções especiais. O raciocínio do governo turco é simples: armando o Exército Livre da Síria e dotando-o de um poder de fogo capaz de fazer frente às forças leais ao Presidente Bashar al-Assad, vai ficar muito mais fácil negociar com esse grupo se ele, de fato, tomar o poder na Síria. E se, para ajudá-los a tomar o poder, for necessário fazer a guerra, nada impede o governo turco de exercer essa retórica. O Parlamento turco autorizou o governo a movimentar as tropas do país para a fronteira com a Síria. Mas o que se vê é que a guerra em si não é o objetivo principal, mas, sim, toda a comoção causada por essa retórica beligerante.
”O jornal francês “Le Figaro” tem praticamente a mesma avaliação do jornal turco. Os comentaristas franceses avaliam o conflito entre Síria e Turquia da seguinte maneira:
“O fator curdo é o que move a Turquia rumo à Síria. O povo do Curdistão, alojado na região de fronteira entre os dois países, causa severas preocupações ao governo turco, e uma guerra poderia ajudar a solucionar essas preocupações. Nos últimos dois meses, o governo turco vem demonstrando uma grande apreensão pela crescente influência dos curdos no norte da Síria, onde eles já controlam e influenciam algumas localidades. Para os turcos, há uma intensa ligação entre o Partido da União Democrática, integrado pelos cursos que vivem na Síria ou nos territórios próximos, e o Partido dos Trabalhadores Curdos, que tem intensificado suas ações políticas contra a Turquia. No governo turco, não falta quem sugira que os ataques contra o país estejam partindo desses grupos, fazendo com que a responsabilidade recaia sobre a Síria. O fato é que o clima de tensão é crescente, e o governo turco está muito atento ao possível aprofundamento do problema.”
Para o jornal russo “Izvestia”, o clima de hostilidade entre Síria e Turquia tem outras motivações. Os articulistas russos têm a seguinte percepção desse conflito:
“Os líderes políticos da Turquia demonstram querer ver o país vizinho como a Síria dos seus sonhos. Nesses sonhos, a Síria aparece como uma súdita fiel e submissa dos sultões do Império Otomano que dominou a Turquia. Entretanto, é preciso levar em consideração que a autorização para que o governo turco movimentasse suas tropas em direção à fronteira com a Síria foi dada por 320 dos 550 parlamentares federais turcos. Esta decisão teve o apoio do Partido Justiça e Desenvolvimento e do bloco denominado Movimento Nacional. Dos 230 parlamentares que votaram contra a medida, 129 disseram que o governo não poderia receber dos representantes do povo uma verdadeira carta branca para agir conforme as suas conveniências. Agremiações de oposição como o Partido Republicano do Povo e o Partido Paz e Democracia foram fundamentalmente contrários à autorização do enfrentamento militar da Turquia com a Síria. Seus representantes chegaram a dizer que, se esse conflito armado vier de fato a acontecer, a Turquia poderá estar dando início à Terceira Guerra Mundial.”