Dmitry Babich
Eleições ucranianas
Os resultados eleitorais e seus efeitos sobre as relações entre a Rússia e a Ucrânia
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Os votos da eleição parlamentar ucraniana no domingo, 28, ainda estão sendo contados, mas já está claro que a oposição não vai discutir a legitimidade do voto – pelo menos, não vai exigir uma recontagem. A razão é que a oposição parece ter feito relativamente um bom trabalho nesta eleição. A votação revelou apenas uma relativa superioridade de uma coalizão de forças políticas que apoiam Viktor Yanukovich, o atual presidente da Ucrânia. O Partido das Regiões, de Yanukovich, segundo algumas pesquisas de boca de urna, obteve entre 27,6 e 30,5%. O Partido Comunista da Ucrânia, que muitas vezes se alia ao Partido das Regiões durante votações cruciais, teve entre11 e13% dos votos, de acordo com as mesmas pesquisas. Assim, espera-se que o lado pró-Yanukovich chegue a uma faixa entre 38 e 43% dos votos.
A expectativa não é muito inferior para as facções da oposição. Os três principais partidos não devem receber menos do que 39% dos votos. Deve ser notado que esses dados revelam apenas os resultados preliminares da votação nas chamadas listas de partidos. Analistas esperam que o Partido das Regiões melhore seus resultados finais entre a maioria votante, que supostamente deve proporcionar metade dos assentos, ou 225 assentos entre os 459 lugares do Parlamento, chamado Rada em ucraniano. No entanto, os resultados inesperadamente altos nas listas dos partidos já inspiraram os líderes da oposição. Eles já estão falando sobre um possível impeachment do Presidente Yanukovich, que é muito impopular tanto entre os nacionalistas ucranianos quanto entre os representantes da União Europeia. Enquanto isso, visto que a União Europeia espera sincronizar sua estimativa de voto com as atitudes da oposição, o não reconhecimento do voto por estruturas europeias é improvável. Isso já foi indicado por representações do Parlamento Europeu em Kiev, segundo relato da rádio local “Golos-Stolitsy”. Esta opinião é partilhada por Andrzej Brzeziecki, o editor-chefe da revista polonesa “Nova Europa Oriental”, especializada em política ucraniana, entre outros.
Andrzej Brzeziecki afirma em seu artigo:
“Eu acho que o reconhecimento ou o não reconhecimento da votação por parte da União Europeia vai depender da postura dos partidos de oposição. É muito importante que os resultados desta eleição sejam positivamente recebidos pelos líderes da oposição. Isto terá um efeito positivo na posição dos observadores internacionais, incluindo os da Polônia. Acredito que o mais provável é que a União Europeia reconheça esta eleição."
O que oposição ucraniana representa? No momento, a oposição é representada por um amálgama de partidos, desde os radicais nacionalistas do Svoboda (Liberdade) até os pró-europeus do partido Udar (Golpe), liderado pelo campeão de boxe Vitaly Klichko. No entanto, a espinha dorsal da oposição pró-europeia deve ser formada em grande parte pelo Pátria, ou Batkivshchina, em ucraniano, um partido formado pela ex-Primeira-Ministra Timoshenko. Ela está atualmente na prisão, acusada de abusar do poder enquanto primeira-ministra do país. Yulia Timoshenko foi sentenciada a sete anos de prisão, o que já levou a uma crise prolongada nas relações da Ucrânia com a União Europeia e os Estados Unidos. A União Europeia colocou em espera o acordo pendente da associação da Ucrânia sobre a liberação de Timoshenko.
Então, quais são os resultados desses partidos? Se as pesquisas de boca de urna são acreditáveis, o partido Pátria, tendo se mesclado com um partido menor, a Frente da Mudança, fundada por Arsenyi Yatsenyuk, de fato saiu como o maior grupo de oposição, com 23 a 25% dos votos, apenas 3 a 5% atrás do Partido das Regiões. O Udar, de Klichko, aparece em terceiro, com 13 a 15% da expectativa dos votos. O partido nacionalista, Svoboda, amplamente percebido como xenófobo e até neonazista por causa da fama que adquiriu com a participação de ucranianos pró-nazistas líderes nacionalistas dos tempos da Segunda Guerra Mundial, espera receber entre 11 e 12%. O importante é que rumores sobre uma possível aliança de Vitaly Klichko com o Partido das Regiões, de Yanukovich, foram rapidamente dissipados por Klichko esta noite. Ele disse que seu partido vai se aliar com o Pátria e o Svoboda, criando, assim, um forte bloco nacionalista dentro do Parlamento.
Vladimir Fesenko, o chefe do centro Penta de pesquisa política de Kiev, espera alguma rivalidade entre Klichko e o líder do Pátria, Arsenyi Yatsenyuk. No entanto, esta rivalidade irá revelar-se mais tarde e não agora, quando a oposição ainda não acredita inteiramente na sua própria sobrevivência. Fesenko afirma: “Eles têm um adversário em comum, um inimigo comum. Se eles agirem distintamente, sua oposição será rapidamente derrotada. E juntos eles vão ter pelo menos 150 assentos no Parlamento – na verdade, um bloqueio em conjunto, se usarmos a linguagem dos negócios. Se Klichko e Yatsenyuk adiarem a realização de suas ambições presidenciais individuais para tempos melhores, eles podem conseguir muito e cooperar em uma série de questões.Eles só podem sobreviver se ficarem juntos."
O que está em jogo para as relações da Ucrânia com a Rússia e o Ocidente? O Parlamento Ucraniano tem uma influência bastante limitada sobre a política externa do país. Poucos especialistas acreditam que ele pode rapidamente inverter a política de remendar os laços de Yanukovich com a Rússia, laços que haviam sido se esgarçado por seu antecessor, o ex-Presidente Viktor Yushchenko. No entanto, se o novo Parlamento rachar e ficar mais nacionalista, isso pode ser um mau presságio para os laços russo-ucranianos.
Nacionalistas do Rada já falaram sobre cancelar simbolicamente os acordos sobre a base da frota russa do mar Negro em Sebastopol, na Crimeia. E, mesmo que seus votos sejam em grande parte simbólicos, apenas o fato de o presidente ser capaz de começar a renegociar os acordos assinados anteriormente já mostra que o efeito psicológico de tal movimento pelo Parlamento ucraniano não será a favor de Moscou.