Diário da Rússia

Dmitry Babich

Obama 2.0: Um peacemaker falho e um falcão inseguro

Mais cedo ou mais tarde, os Estados Unidos terão de se engajar no diálogo, em que a Rússia, sem dúvida, vai fazer parte

Qual será a linha de política externa do recém-eleito presidente Obama? Os especialistas observam que as diretrizes desta política podem ser descobertas em grande parte pela linha de sua política externa dos últimos anos de seu primeiro mandato no cargo. De fato, tanto os seus adversários quanto seus partidários concordam que ele está longe de ser o pacifista que alguns entusiastas anti-Bush esperavam que ele fosse durante a eleição de 2008. O primeiro presidente negro dos Estados Unidos provou ser – em algumas questões, pelo menos – não menos falcão do que seu antecessor, George Walker Bush.

Bruce Fein, um especialista em assuntos constitucionais e o assessor do pré-candidato republicano à Presidência, Ron Paul, observa que Obama prefere se manter à distância das táticas de intervenções de Bush. A campanha dos drones – ou vants, aviões não tripulados – de Obama, no entanto, é em muitos aspectos ainda mais cruel do que as ocupações de Bush e rendições nas prisões secretas da CIA. Além disso, Obama aprovou pessoalmente as chamadas “listas de inimigos” durante seus encontros com John Brennan, que recentemente foi nomeado diretor da CIA. Bruce Fein, forte defensor dos princípios constitucionais americanos, considera essa prática imoral.

Segundo ele, a nomeação de Brennan indica que o segundo mandato de Obama não terá qualquer alteração substancial na sua abordagem de política externa, que é a abordagem de um império, mas desta vez pode ser um "império de luz". Fein argumenta que Brennan resume a arrogância dos Estados Unidos, acreditando ser o único dotado de autoridade para enviar drones ‘Predator’ para matar qualquer um que o presidente secretamente decida ser um perigo para o país.

Muitos entusiastas iniciais de Barack Obama ficaram decepcionados ao ver que a sua abordagem multicultural e o discurso sobre as mãos estendidas para a Rússia e até mesmo para o Irã eram pouco mais do que uma cobertura de açúcar por cima das políticas inalteradas de seu antecessor. Além disso, a biografia “politicamente correta” de Obama e o Prêmio Nobel da Paz fizeram suas políticas serem menos vulneráveis às questões dos cidadãos preocupados.

Como pode uma pessoa com origens tão humildes e uma experiência cultural variada ser de fato um maior defensor de soluções militares do que o branco, arrogante e provincial Bush?

Mark Sleboda, um analista político que trabalha para a Universidade Estatal de Moscou e a London School of Economics, vê Obama como uma "mão negra" para um trabalho sujo. Segundo ele, Obama não é mais falcão [do que George W. Bush], mas o simples fato de ele ser um democrata e um afro-americano lhe forneceu uma licença para fazer a um menor custo político as mesmas coisas que Bush teria feito, se ele tivesse a tecnologia e a vontade política que os Estados Unidos tinham no seu tempo. Mas Obama não protestou contra as mesmas coisas que levaram milhões de americanos às ruas para protestar contra a Presidência republicana.

Quando vai ocorrer a mudança de paradigma na mente de Obama? Quando ele deu as costas para o seu discurso no Cairo, o chamado “reinício” russo-americano e sua posição frente ao povo iraniano? Quando sua fascinação pela guerra de drones e os contínuos ataques à Rússia serão definidos de vez? Alguns analistas apontam para a influência da Secretária de Estado, Hillary Clinton, cuja atitude geralmente negativa em relação à Rússia fez muitos especialistas questionarem a sinceridade de sua participação na política de “reinício”.

No entanto, Peter Lavelle, analista político do canal de televisão Russia Today, vê o comportamento de Hillary Clinton como parte de uma mudança mais geral de atitude, que ocorreu em algum momento na administração de Obama, por volta de 2010.

Segundo Lavelle, os republicanos têm dificuldade em ver um democrata como Obama sendo mais agressivo que o Partido Republicano. Lavelle considera que isto faz parte de toda a administração de Obama, incluindo Hillary Clinton, à procura de mais guerras em vez de mais paz.

Pode ocorrer uma mudança para o melhor no futuro? No momento, vemos apenas substituições de alguns problemas por outros. Os analistas preveem que, mesmo tecnicamente, as chamadas guerras de drones não são uma solução para a segurança dos Estados Unidos. Regimes agressivos também vão tentar se apossar desta arma terrível, e, numa hora de necessidade, esses regimes não vão evitar usar drones. Uma solução poderia ser um verdadeiro diálogo, ao invés das armas. Mas, como observa Bruce Fein, o diálogo nunca foi uma parte de uma narrativa imperial.

De acordo com ele, os Estados Unidos tiveram candidatos como Michelle Bachman e Mitt Romney, que disseram que a Rússia é o país mais perigoso do mundo para os Estados Unidos. Mas Bruce Fein acredita que isto é um sintoma de um império, pois um império vê como antagonista um país que não faz o que o império acha que este país deveria fazer. Ele exemplifica isto com o fato de que a Rússia não tem a mesma visão que os Estados Unidos sobre a Síria e o Irã, e, com isso, a posição norte-americana é de achar que tem algo errado com a Rússia, ao invés de se perguntar se algumas de suas políticas não poderiam estar erradas.

Resumindo a agenda da nova política externa de Obama, pode-se chegar à conclusão de que uma mudança em relação à tática de Bush de “revidar dez vezes mais forte” como combates preventivos contra alguns países que nunca fizeram nada de ruim para os Estados Unidos, como o Iêmen, pode ocorrer de uma forma apenas temporária. Mais cedo ou mais tarde, os Estados Unidos terão de se engajar no diálogo, em que a Rússia, sem dúvida, vai fazer parte. Seria aconselhável que isto acontecesse antes de Barack Obama perder os restos de esperança que alguns ativistas da paz mundial ainda associam a ele.

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