Dmitry Babich
Mitos sobre a Rússia
Tudo na economia russa é feito pelo Estado?
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Existe uma piada sobre a ciência da economia: é só ensinar um papagaio a dizer "oferta e demanda" 20 vezes por dia e você terá um economista. Com especialistas ocidentais sobre a economia russa o trabalho de ensino não é muito mais difícil. Se uma pessoa pode pronunciar claramente três adjetivos de estilo soviético, lentos e excessivamente regulamentados – esta pessoa é certamente elegível para um doutorado sobre o desenvolvimento econômico da Rússia e pode ser citada por hordas de jornalistas. O truque é não aprender mais nada e, Deus me perdoe, não dizer mais nada.
O exemplo do economista sueco Anders Aslund é uma vívida confirmação desta situação. Não muito antes do recente Fórum Gaidar, em Moscou, o evento anual dedicado à memória de um reformista russo ultraliberal dos anos 90, com quem o sueco trabalhou décadas atrás, o Sr. Aslund publicou uma opinião sobre a economia do que ele chama de “Rússia de Putin”. Aqui vão algumas típicas citações que lembram a magia do economista-papagaio.
“Na Rússia de Putin, tudo tem sido feito pelo Estado”, “Putin parece ignorar o colapso econômico soviético e por que isto aconteceu”. E, é claro, nós ouvimos muitos adjetivos mágicos sobre todas as coisas aqui sendo do estilo soviético e sobre a Rússia falhar em atrair os gênios econômicos liberais do exterior e de suas próprias profundezas. Uma dose considerável de acusações sobre gastos sociais irresponsáveis também é adicionada.
Fatos não combinam com esta teoria. (O orçamento da Rússia em 2013 teve um déficit de 0,5, e sua dívida soberana foi estimada pelo ministro do Desenvolvimento Econômico, Alexey Ulyukayev, ao nível de 11% – uma imagem muito melhor, a partir de um ponto de vista "monetarista", do que o que vemos nos Estados Unidos ou em alguns países da União Europeia.) Mas, se os fatos não se encaixam na teoria de um especialista ocidental sobre a Rússia – tanto pior para os fatos.
O mantra de Aslund sobre economistas liberais sendo maltratados na Rússia também é um pouco rebuscado. Entre os declarados “homens de Gaidar” estão não só o ministro do Desenvolvimento Econômico mas também o Banco Central, e o mero fato de o Primeiro-Ministro russo Dmitri Medvedev ter escolhido o Fórum Gaidar para fazer seu discurso fala por si só. Aliás, o Fórum Gaidar em Moscou contou com algumas das mentes econômicas mais liberais do mundo – incluindo o ex-amigo e colega de Gaidar, Jeffrey Sachs (conhecido por sua reforma do sistema financeiro boliviano), e o líder da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento, Ángel Gurria. Ambos elogiaram o desenvolvimento da Rússia, dizendo que era tudo menos lento ou socialista. Inclusive, no Fórum o Primeiro-Ministro Medvedev definiu a tarefa de reduzir o papel do Estado na economia, e o Vice-Primeiro-Ministro Igor Shuvalov disse que a cota do Estado vai ser reduzida para 25% no próximo ano – um dos menores percentuais do mundo.
Então, parece que as análises do Sr. Aslund se encaixam na mesma categoria que as recentes críticas feitas pelo senador americano John McCain. O Sr. McCain publicou por engano seu discurso contra o que ele chama de burocracia socialista de Putin num tabloide da internet que leva o mesmo nome do principal jornal oficial da União Soviética – o “Pravda Daily”. Assim, as revelações de McCain foram publicadas não ao lado de discursos de Putin, como ele esperava, mas ao lado de histórias sobre "caveiras alienígenas encontradas em Marte" e "treze fatos terrivelmente estranhos sobre as mulheres". Bem, se você ler o Sr. Aslund, vai aprender não 13, mas 13 mil coisas terrivelmente estranhas sobre economia russa. O problema com elas é que têm praticamente a mesma relação com a realidade que os crânios alienígenas encontrados em Marte.