Fyodor Lukyanov
Países que se consideram líderes mundiais já se sentem ameaçados pelo grupo BRICS
A liderança tradicional está sendo cada vez mais questionada
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Cada reunião de cúpula do grupo BRICS provoca um grande interesse devido à participação dos cinco países que desempenham um papel importantíssimo na comunidade internacional mas que, apesar disso, são sempre cercados de uma série de comentários céticos. A maioria dos observadores do Ocidente e dos próprios países do BRICS está convencida de que o grupo é uma “entidade artificial”, que não consegue se unir e só existe por conta da vaidade e iniciativa dos líderes individuais.
Para os comentaristas ocidentais, o BRICS, desde o começo, destacou o componente econômico. Por definição da empresa Goldman Sachs, dos Estados Unidos, feita em 2003, o grupo BRICS é uma integração dos países com rápido crescimento econômico, dos quais é esperado que, em 2050, venham a se transformar nos líderes da economia global.
Muitas coisas mudaram desde daquela época, e, pela dinâmica do seu desenvolvimento econômico, a Rússia se encontra em posição bem inferior em relação aos outros países do BRICS, como, por exemplo, a China. As diferenças entre esses países são tão óbvias que, segundo opinião geral, a sua união parece mais um acidente, que não vai durar muito.
Ao mesmo tempo, já está sendo realizada a quarta reunião de cúpula do grupo BRICS, e o seu sucesso está, de fato, na mudança da sua designação. A economia não é mais considerada o fator principal para a sua existência, e não se trata mais do crescimento e do desenvolvimento rápido dos mercados.
O mundo muda e os países que tradicionalmente se consideravam os líderes mundiais continuam se considerando os mesmos, mas essa liderança está cada vez mais questionada. Os países que não aceitam a dominação total e indiscutível do Ocidente, mas ao mesmo tempo não se transformaram em seus oponentes diretos, somente questionando se tudo está sendo feito de maneira correta, estão hoje reunidos no grupo BRICS.
Cada país integrante do BRICS é uma potência regional, relativamente forte, mas não deixa de ser potência regional. O que une esses países é o círculo das suas relações internacionais, o que, ao mesmo tempo, obriga esses países a buscar outras formas de convivência. A necessidade de mudanças no ambiente internacional é o fator que une esses países e os obriga a buscar outras formas de relacionamento. Essa necessidade é maior do que a necessidade interna de cada país.
São vários problemas, e as diferenças culturais, econômicas e religiosas são visíveis a cada passo. Sem dúvida alguma, todos os países do BRICS se esforçam para defender seus próprios interesses, às vezes egoístas. E, como resultado, ao invés de se transformarem numa frente unida, os países do BRICS criam alternativas, preferindo cooperar com Estados Unidos e Europa separadamente. A falta de união está muito perceptível, e muitas oportunidades não estão sendo aproveitadas devidamente. Mesmo assim, o formato existe e evolui.
A Rússia, infelizmente, ainda não consegue definir a sua posição em relação ao Ocidente e ao mundo em desenvolvimento.
Países como Índia, China e Brasil estão claramente conscientes da sua individualidade e do papel importante que desempenham em suas regiões, enquanto a Rússia se divide entre diferentes orientações sem se identificar completamente com o Ocidente e a Europa. Esses países sentem intuitivamente que esse formato é necessário e precisa ser preenchido com conteúdo. O novo formato está sendo criado, e a cada ano os países tentam encontrar novos pontos de interação.
Durante a atual reunião de cúpula, estão sendo discutidas as questões da Síria e do Oriente Médio. É pouco provável que seja obtido um consenso absoluto, mas o problema está sendo debatido de uma maneira diferente da praticada no Ocidente o no Oriente.
A reunião de cúpula do grupo BRICS não trará novidades nem apresentará uma estrutura definida. Ao contrário, ela representará, apenas, mais um passo em direção à busca de conteúdo para este formato artificialmente criado. Afinal, o sistema internacional caótico e indefinido só vai ajudar os países membros a buscar maior desenvolvimento para o grupo BRICS.