Fyodor Lukyanov
A linha tênue que separa as ameaças internas e externas
É difícil prevenir ações terroristas, por mais que os países invistam em inteligência, informação e segurança
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O caso dos irmãos Tsarnaev, de etnia chechena, acusados da colocação de bombas na linha de chegada da Maratona de Boston, em 15 de abril, deixou muitos analistas perplexos.
Desde os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, o terrorismo passou a ser visto como um fenômeno global. Poucos iriam se surpreender se as ações atribuídas aos irmãos Tamerlan e Dzhokhar Tsarnaev viessem a motivar o surgimento de outros radicais islâmicos praticando protestos violentos contra a política dos Estados Unidos.
O caso dos irmãos Tsarnaev é diferente. Radicados nos Estados Unidos há cerca de dez anos, os Tsarnaev não tinham razões para se voltar contra os Estados Unidos, país que lhes deu abrigo, hospedagem e educação. Eles não tinham razão alguma para propor qualquer vingança contra os Estados Unidos em função de sua política para o Oriente Médio e para outros países. E, no entanto, os dois Tsarnaev se voltaram contra os Estados Unidos provocando a tragédia que matou três pessoas e deixou quase três centenas de pessoas gravemente feridas.
Estes atos de terror praticados pelos Tsarnaev revelam como é tênue a linha que separa as ações extremistas domésticas daquelas que são praticadas no exterior. Mostram também como é tênue a separação entre o que é individual e o que é público na concepção dos terroristas. Para eles, não há mais separação entre uns e outros. Tudo e todos podem ser alvos de ações extremistas contanto que causem pânico, assombro e temor. Porém, todas estas ações indicam também como é difícil prevenir ações terroristas por mais que os países invistam em inteligência, informação e segurança.
Muitos tentaram traçar paralelos entre as ações de 11 de setembro de 2001 e as de 15 de abril de 2013. Porém há diferenças. Os ataques a Nova York e Washington em 11 de setembro de 2001 revelaram que, com o fim da Guerra Fria e o desmantelamento definitivo do que havia restado da União Soviética, os Estados Unidos permaneceram como única superpotência global. Isto desencadeou uma onda de ódio pelo mundo, e mesmo as medidas de rigorosa segurança implantadas no país não foram suficientes para conter os ânimos dos terroristas.
Para muitos analistas, o terrorismo mundial ocupou o vácuo criado pelo desmantelamento da União Soviética, passando a representar o grande inimigo global dos Estados Unidos.
Este país fez da democracia a sua ideologia e decidiu promovê-la como tal. Dessa forma, seus opositores passaram a se sentir ameaçados e decidiram reagir com muita violência. Democracias não são perigosas para outras democracias, porém são muito perigosas para regimes autoritários e ditatoriais. Para que a democracia não prospere, ela deve ser destruída. Esta é a concepção dos terroristas e do terrorismo.
Combater o terrorismo tornou-se uma diretriz do Governo Barack Obama. A eliminação do terrorista Osama Bin Laden, responsável pelos ataques de 11 de setembro, coroou esses esforços, que engrandeceram o país perante o mundo.
Agora, resta eliminar de vez essas ameaças e adotar políticas mundiais que convençam os terroristas a desistir de sua luta, que é nefasta para toda a humanidade. Este é um peso muito grande que os políticos de todas as partes do mundo terão de suportar.