Mariana Gomes
Mais que uma profissão, o balé é minha vida
Já são cinco anos de trabalho no Teatro Bolshoi, em Moscou. Sou a única bailarina estrangeira contratada, danço todos os balés do repertório, inclusive solos, e participo de todas as turnês. Quero que, um dia, meu país se orgulhe de mim.
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O balé, que para muitos é apenas um hobby, e para outros somente o tema do filme da moda, para mim, mais do que minha profissão, é minha vida.
Nunca imaginei, quando entrei na sala de balé, em Salvador, com sete anos de idade, que chegaria à Escola do Teatro Bolshoi em Joinville, Santa Catarina, e sequer passava por minha cabeça que em quatro anos nessa escola (considerada a melhor escola profissional do Brasil) eu seria escolhida para estagiar em Moscou.
Tudo isso aconteceu comigo.
Até então, tudo bem... Um ano de estágio, passando muito frio até mesmo no outono... Eu me perguntava “o que vai ser de mim no inverno de 30 graus abaixo de zero?”, morando com famílias russas em apartamentos pequenos, frequentando aulas no Teatro Bolshoi, somente admirando os bailarinos e professores – só de estar perto deles já era um presente divino!
Naquele ano de estágio, acabei subindo ao palco, dançando no meio daqueles bailarinos que, para mim, eram mitos. Hoje, depois de cinco anos, continuo trabalhando no Teatro Bolshoi de Moscou, sou a única bailarina estrangeira contratada, danço todos os balés do repertório, inclusive solos, e participo de todas as turnês.
Já viajei pelo mundo, conheci diversas cidades, culturas, teatros diferentes, coreógrafos, importantes diretores, professores e bailarinos do século, como Maya Plisetskaya. Já apertei a mão de um presidente da República. Tudo isso, ao olhar para trás, me faz pensar em quanto já conquistei, em tudo por que passei e superei sozinha... e será que acaba por aqui? Acredito que não, porque nunca estou satisfeita, sempre olho adiante, e me proíbo de me comparar aos outros. Pois, se tivesse feito isso, desistiria no primeiro dia de aula.
A minha vida ainda é uma luta diária, ainda morro de frio, ainda enfrento problemas de moradia, falta de patrocínio, falta de reconhecimento, saudades de casa... Mas, quando subo ao palco, olho para cima, vejo o lustre brilhando, a plateia aplaudindo, sinto a certeza de que sei o que quero, e vou conseguir.
Conseguir que, um dia, o meu país inteiro se orgulhe de mim.