Roberto Fendt
Pibinho raquítico
Temos que atentar para as razões que explicam a escassa melhoria da produtividade total dos fatores de produção
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Confirmando a estimativa inicial do Banco Central, o IBGE informou que o PIB brasileiro cresceu 2,7% em 2011, menos que o crescimento médio mundial, de 3,8%. Parece um resultado ruim. É mesmo. A questão é que o resultado ruim não se limita ao ano passado. Ele vem de longe.
Para não nos fixarmos no resultado apenas de 2011, talvez valha a pena considerar o que ocorreu nos dois últimos anos, quando o PIB brasileiro aumentou 10,4%, resultado robusto e equivalente a uma taxa média anual de 5,1%. Com essa velocidade de cruzeiro, o PIB dobraria em 14 anos e quadruplicaria em uma geração.
É bem verdade que se ficarmos com somente esse número estaremos sendo perigosamente ufanistas. É preciso levar em conta que a população aumentou nos dois anos cerca de 1,8% para chegarmos ao crescimento do PIB por habitante. Deduzido o aumento populacional, nos dois anos o PIB per capita cresceu 8,5%, suficiente para dobrá-lo, caso mantida, em 18 anos. Nada mal, se considerarmos a evolução do PIB per capita como indicador de melhoria do padrão de vida da população. Nada mal também se o padrão de comparação for o crescimento dos países desenvolvidos e daqueles que estão à nossa volta, com a exceção do Chile.
O problema é que os dois últimos anos não contam toda a história. Entre 2005 e 2011, o PIB real brasileiro cresceu a uma taxa média muito mais baixa, de 3,6% ao ano. No mesmo período, a população aumentou a uma taxa média anual de 0,97%. Com esses números, dobrar a renda per capita requereria agora, em lugar de anos, uma geração inteira.
O que há de errado conosco, que não conseguimos reproduzir o desempenho mais rápido que já tivemos no passado? Vale a pena examinar os fatores que determinam o crescimento para responder a essa questão.
Esses fatores são, em qualquer país, a acumulação dos fatores de produção, capital e trabalho, e o grau de eficiência com que operam esses fatores.
Um aumento da população contribui para o crescimento pelo fato singelo de que há mais gente trabalhando e produzindo. Um segundo fator importante relacionado com a mão de obra são os ganhos de produtividade da mesma mão de obra. Quando se transferem trabalhadores da agricultura de subsistência para atividades urbanas, na indústria, no comércio e nos serviços, a produção por trabalhador aumenta. Esse é parte do segredo do exponencial crescimento da economia chinesa.
A produtividade da mão de obra aumenta também com a melhoria da qualificação dos trabalhadores. Onde a disponibilidade e a qualidade da educação são altas, aumentam a produtividade do trabalho e sua contribuição para o produto nacional.
A acumulação de capital é o segundo ingrediente. Máquinas e equipamentos substituem a força bruta humana, multiplicando o produto de cada trabalhador. Quando o Brasil poupava e investia 25% do PIB, crescíamos em média a 7%, ano após ano, e não em surtos isolados. A China cresce o que cresce não somente por deslocar trabalhadores da agricultura de subsistência para as cidades. Mas também por proporcionar a esses trabalhadores mais capital para trabalhar, obtido de investidores externos. E a China poupa 40% do PIB, contra os míseros 17% que poupamos aqui.
Finalmente, a incorporação de tecnologias aumenta a produtividade do capital e do trabalho. Essas novas tecnologias não se limitam à melhoria dos equipamentos, mas incluem também melhorias de processos, obtidas muitas vezes por ganhos de escala de produção. Esses ganhos, por seu turno, dependem do tamanho do mercado, o que sugere que o crescimento pode estar associado a uma maior abertura ao mercado exterior, o maior mercado existente, com mais exportações e importações na composição do PIB.
Se assim é, fica claro que não devemos perder nosso tempo tentando explicar o pibinho raquítico que tivemos em 2011. O que devemos fazer é atentar para as razões que explicam a escassa melhoria da produtividade total dos fatores de produção.
Com uma taxa de poupança interna bem inferior a 20% do PIB, não podemos aspirar a um crescimento maior do que o que temos. Com a qualidade da educação pública brasileira, não melhoramos a produtividade da mão de obra. Com os maiores juros reais do mundo; com uma das maiores cargas tributárias; com um ambiente de negócios hostil à iniciativa privada; com a enorme burocracia que asfixia o empreendedorismo, o que surpreende é que ainda estejamos crescendo.
Podemos culpar as “incertezas do mundo” para justificar o baixo crescimento de 2011. É mais conveniente e não incomoda ninguém, aqui dentro. Mas se quisermos explicar por que crescemos abaixo da média mundial nos últimos anos, teremos que abandonar esse bode expiatório.
[Este artigo foi originalmente publicado no “Diário de São Paulo”.]