Roberto Fendt
Um paradoxo aparente
Por que o aumento do emprego não se refletiu em um aumento na mesma proporção no PIB
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Disse o Senhor Deputado Paulo Ferreira (PT-RS): "A oposição comemora o PIB baixo, o povo comemora os empregos e o aumento da renda das famílias. Isso o PIB não explica."
De fato, parece paradoxal. O PIB praticamente não cresceu, se descontarmos o crescimento da população. Em média, a renda do brasileiro aumentou apenas 0,1%, percentual difícil de visualizar no bolso – exceto pelos que estão na faixa de 1% mais ricos da população.
Com raras exceções, o crescimento do PIB e o aumento do emprego andam juntos, já que é necessário mais trabalho para gerar mais produção. No entanto, em 2012 observa-se claramente que o mercado de trabalho está com forte demanda e que se expandiu o emprego, com a concomitante estagnação do PIB.
Em vista disso, cabe perguntar: de que empregos e de que aumento de renda das famílias está falando o senhor deputado? E por que o aumento do emprego não se refletiu em um aumento na mesma proporção no PIB?
O emprego que está crescendo e ao qual alude o senhor deputado pode bem ser o emprego formal – aquele número que aparece nas estatísticas dos empregados com carteira assinada.
Em um ano em que o PIB da indústria de transformação encolheu 2,5% e o da agropecuária teve redução de 2,3%, o PIB do setor de serviços cresceu 1,7% – nenhuma maravilha, mas quase o dobro do crescimento médio da economia. Alguns segmentos desse setor tiveram desempenho razoável, como o de administração, saúde e educação públicas (crescimento de 2,8%) e de serviços de informação (2,9%).
É provável que uma parcela do crescimento desses recém-empregados, na verdade, não estivessem desempregados – mas estarem trabalhando sem carteira assinada. Esses trabalhadores do setor informal da economia podem ter migrado para o setor formal, reduzindo o número dos informais. A esses, há que adicionar o grande número de empregados domésticos que abandonaram essa atividade e se incorporaram à força de trabalho do setor de serviços. Estatísticas disponíveis indicam que esse número pode rondar 200 mil pessoas. Se assim for, a pergunta seguinte é: por que está crescendo a demanda por mão de obra no setor de serviços e caindo a demanda na indústria?
As explicações são várias, mas é importante observar que as classes de renda C e D tiveram forte crescimento em seu rendimento, especialmente pelo expressivo aumento do salário mínimo real. Esse grande segmento da população, anteriormente sem acesso ao consumo de serviços, passou a fazê-lo nos últimos anos.
Uma primeira conclusão do que foi dito até agora é que ocorreu uma forte redistribuição, de renda e emprego, da classe média para as classes C e D. A perda de renda de um segmento foi compensada pelo ganho de renda do outro. E ocorreu um aumento líquido no emprego nas camadas de menor renda da população.
Ora, dirá alguém, se de fato a renda média do brasileiro permaneceu estagnada mas o emprego total aumentou, não deveria também ter aumentado o PIB?
O raciocínio estaria correto se a produtividade média do trabalho não tivesse mudado. Mais trabalhadores empregados com a mesma produtividade necessariamente aumentariam o PIB. O problema é que a produtividade do trabalho vem caindo, como já apontei nesse espaço e o mesmo fizeram em outros lugares vários economistas.
Está acontecendo conosco o inverso do que ocorre na China. Lá está se dando uma transferência de trabalhadores de baixíssima produtividade, empregados na agricultura familiar, para empregos de produtividade maior na indústria. O motor dessa transferência é a produção em grande escala para o mercado externo. A especialização permite a exploração de vantagens comparativas, garantida pelo tamanho do mercado internacional. Essa saída para o mercado externo é assegurada por uma taxa de câmbio desvalorizada.
Aqui, a produtividade do trabalho está caindo já há algum tempo. Essa queda na produtividade decorre da maior expansão de setores de baixa produtividade, voltados para a prestação de serviços no mercado interno, e da contração das atividades industriais voltadas à exportação e ao mercado interno – onde a produtividade do trabalho é maior.
A valorização do câmbio contribui para penalizar a indústria, quer pelo maior acesso dos importados ao mercado interno, quer pela perda de competitividade no mercado externo.
O nosso padrão de crescimento recente, calcado no aumento do consumo e na valorização do câmbio, produz simultaneamente uma forte desaceleração do crescimento e um aumento do emprego formal em atividades de baixa produtividade do trabalho.
Não é assim que se promove o crescimento sustentado. Mas como mudar essa estratégia em ano eleitoral?