Diário da Rússia

Sergey Vassilyev

O Brasil no caminho da modernização: Parte I – O país de FHC e Lula

Brasil é citado em todas as listas de nações consideradas capazes de desempenhar o papel de liderança mundial

Se o conceito de moda se aplica em política internacional, então o Brasil está na moda. O país é citado em todas as listas de nações consideradas capazes de desempenhar o papel de liderança mundial. De BRIC a candidato favorito para um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (caso o órgão algum dia finalmente amadureça para as reformas), o Brasil está conduzindo uma política externa cada vez mais agressiva, e se posiciona para além das pretensões de um poder regional. Tenta se apresentar como uma espécie de “terceira força” na arena global, como um país em franco desenvolvimento e com visão própria sobre o funcionamento do mundo.

Apesar disso, o Brasil não alimenta relações conflitantes com outros países e não acalenta pretensões expansionistas. Ocupa o nicho de uma respeitável alternativa às diversas formas de exagero ideológico – de direita ou de esquerda.

Para o país, 2009 foi um ano de grandes conquistas simbólicas. O Rio de Janeiro foi escolhido como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, e a conquista adquire maior peso, pois a candidatura brasileira se sobrepôs à de Chicago, promovida por Barack Obama e considerada favorita. No entanto, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, foi mais convincente.

Durante quase todo o século 20 o Brasil sobreviveu em meio a uma situação política e econômica desfavorável. Por isso a sua vertiginosa ascensão impressiona tanto. Governos autoritários ou militares, com forte presença das oligarquias, eram intercalados com regimes democráticos instáveis, focados em promover, de modo inconsistente, reformas. Independentemente do regime, entretanto, o desenvolvimento do país sempre foi conduzido sob a bandeira da industrialização, de substituição das importações. O que, por sua vez, sempre culminou em inflação incontrolável. Apesar de o fenômeno inflacionário, em alguns momentos, ter sido estancado, e alguns períodos de rápido crescimento terem ocorrido (como nos anos 1970), a causa fundamental da inflação, o desequilíbrio orçamentário, nunca foi tratado. O Brasil, além disso, rico em recursos naturais, era muito dependente do mercado internacional e dos preços das matérias-primas no exterior. A economia do país reproduzia as trajetórias do aumento e da queda dos preços dos recursos minerais.

Todos os países latino-americanos viveram fortes turbulências no decorrer do século passado. Em essência, a história do desenvolvimento brasileiro é muito parecida com a dos seus vizinhos, com duas exceções. Em primeiro lugar, a industrialização do país ocorreu de modo por demais acelerado, com atração do capital estrangeiro. Isso possibilitou formar um parque industrial diversificado, mesmo que não muito eficiente. Em segundo lugar, os regimes autoritários brasileiros foram relativamente mais brandos e não afetavam o cotidiano da maioria da população.

O Brasil se transformou numa potência mundial em desenvolvimento graças ao período de governo de dois presidentes: Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2002-2010). Mesmo sendo oponentes políticos e ideológicos, eles conseguiram proporcionar ao país um período de estabilidade política e econômica nunca antes visto, fundando alicerces para um desenvolvimento vigoroso, bem como para o crescimento na arena internacional. Todos concordam que a nova geração de líderes brasileiros deixa muito a desejar, se comparada aos dois presidentes. Cada um desses, a seu modo, foi uma figura única e de grande peso internacional.

[Na próxima coluna: O Brasil no caminho da modernização – Parte II – Fernando Henrique Cardoso e a fundação dos alicerces para o crescimento]

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