Diário da Rússia

Tatiana P. Petrova

Dia Internacional da Mulher

A crescente presença feminina na política e na diplomacia

A participação ativa das mulheres na política e na diplomacia se configurou num dos mais importantes fatores das profundas mudanças ocorridas no Estado tradicional do final do século 20 e início do século 21. As mudanças vão além e incluem conquistas femininas na cultura, na pesquisa científica e tecnológica e em outras áreas da atuação humana.

Uma das principais causas da inclusão feminina no sistema produtivo foi a grande diminuição da população masculina em decorrência das revoluções, das guerras civis e das duas guerras mundiais, que a humanidade vivenciou no século passado. À medida que a educação se tornou não só acessível como também obrigatória, aumentou a quantidade de mulheres capazes de substituir os homens em todas as esferas.

Um fator tão importante quanto esses, que influiu de modo direto e se refletiu no papel da mulher junto à família e à sociedade, foi o avanço na área médica, que possibilitou o planejamento da natalidade. Além das garantias sociais e previdenciárias do Estado, essa possibilidade não só diminuiu a natalidade como também levou muitas mulheres a recusar a maternidade. Muitas mulheres passaram a buscar a realização pessoal em uma carreira, o que levou ao surgimento do termo “childfree”, ou seja, livre de crianças. Foi nesse contexto também que começaram a ganhar força os defensores de casamentos homossexuais, e que culminou, nos anos 60, com a revolução sexual.

Apesar da influência desses fatores, que propiciaram a participação feminina mais ativa no processo produtivo bem como nos processos de tomada de decisões, muitas esferas da vida social e política permaneceram inacessíveis para as mulheres. Esse tabu foi mais resistente em estruturas como a igreja, as forças armadas, a política e a diplomacia. Não dá para dizer que em épocas anteriores as mulheres eram totalmente excluídas dessas áreas de atuação. Entretanto, a presença de mulheres na política ou na diplomacia era sempre vista mais como exceção do que como regra. Essa resistência foi mais aguda na Inglaterra, no século 16, quando os puritanos e os católicos escoceses tentaram provar que uma mulher no poder contradizia a natureza e as Sagradas Escrituras.

No entanto, os tempos mudavam e, junto com os tempos, as circunstâncias históricas. A invasão da Rússia por Napoleão, por exemplo, provocou o surgimento de novas formas de guerra (principalmente a guerrilha), da qual participaram de modo ativo tanto homens como mulheres. Na Rússia, é famoso o nome de Vassilissa Kozhina, que formou um destacamento de guerrilheiros para lutar contra o exército de Napoleão.

Quanto a servir no exército russo de 1812, também contra Napoleão, somente a famosa Nadezhda Durova conseguiu tal proeza. E, vejam só, apenas cem anos depois, as mulheres não só lutavam de igual para igual com os homens nas guerras civis e nas guerras mundiais como também demonstravam coragem fantástica e um preparo técnico invejável.

No século 20, sob intensa pressão feminina, ruíram os últimos redutos de resistência à presença da mulher. Muitas entraram para a política, para a diplomacia e até para as forças armadas. Na França, na Espanha, no Equador e no Chile, mulheres foram nomeadas para comandar os Ministérios da Defesa.

Os esforços de muitas gerações de feministas, de representantes dos mais diversos partidos políticos e de movimentos civis resultaram em direitos iguais para homens e mulheres, garantidos pelas Constituições da maioria dos Estados democráticos. Além disso, em alguns países europeus foi introduzida a cota mínima de 30% de mulheres em todas as estruturas políticas e estatais. Todos esses processos também influenciaram a América Latina, inclusive com a adoção do sufrágio feminino universal. No final do século 20 e no início do século 21, as mulheres latino-americanas se emanciparam de vez e chegaram à Presidência da República dos seus países. A primeira mulher chefe de Estado foi a argentina Maria Estela Martínez de Perón, a famosa Isabelita. Após uma longa guerra civil, em 1990, Violeta Chamorro foi eleita Presidente da Nicarágua. Em 1999, Mireya Moscoso se tornou a primeira mulher a ocupar a Presidência do Panamá. Foi justamente no período de seu governo que o Canal do Panamá, controlado antes pelos Estados Unidos, passou para as mãos dos panamenhos. Em 2006, Michelle Bachelet, filha de um general morto durante a ditadura de Pinochet, foi eleita presidente do Chile. A atual presidente da Argentina é Cristina Kirchner, eleita em 2007. E em janeiro de 2011 Dilma Rousseff foi empossada presidente do Brasil.

Muitas mulheres ocuparam e ocupam altos cargos, o que para elas representa uma etapa lógica de suas respectivas carreiras. Essa tendência também é válida para a política externa. Isso pode ser dito, por exemplo, da Carolina Barco Isakson, que entre 2002 e 2006 foi ministra das Relações Exteriores da Colômbia. Em 2006, uma outra mulher foi nomeada para essa pasta, María Consuelo Araujo Castro, que, em 2003, foi incluída pelos especialistas do Fórum Econômico Mundial na lista de 100 jovens líderes de maior perspectiva no mundo.

O Senado colombiano também já foi presidido por uma mulher, Dilian Francisca Toro Torres. Ela foi uma das fundadoras do Partido Social de Unidade Nacional, criado em apoio ao ex-Presidente Álvaro Uribe, e sempre lutou pela reforma do sistema político do seu país e pela retomada das negociações com os grupos guerrilheiros.

Mulheres famosas ocupam cargos decisivos em muitos outros países da região. Em 2006, María Fernanda Espinosa, ex-diretora regional da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais na América do Sul, assumiu o Ministério das Relações Exteriores de Equador. No anterior governo equatoriano, seis mulheres chefiaram ministérios, inclusive o da Defesa. No Chile, durante o governo da Michelle Bachelet, mulheres comandavam mais da metade dos ministérios. A chanceler do México, Patricia Espinosa Canteliano, já foi embaixadora do seu país na Alemanha, na Áustria, na Eslováquia, na Eslovênia e na Organização das Nações Unidas. Em 2006, Cilia Flores, uma das fundadoras do partido no poder, foi eleita presidente da Assembleia Nacional da Venezuela. A direção do Congresso peruano conta com três mulheres, Mercedes Cabanillas Bustamante (presidente), Fabiola María Moraes e Luisa María Cuculiza.

O corpo diplomático na Federação da Rússia também conta com representantes do sexo feminino. Tiksy Ortiz, que concluiu, aliás, a Universidade de Relações Internacionais de Kiev, na Ucrânia, foi embaixadora do Equador na Rússia por duas vezes. No final dos anos 1990, Tereza Maria Machado Quintela foi embaixadora do Brasil em Moscou. Atualmente, em Moscou, os interesses do Peru e da Bolívia são representados por duas mulheres.

Desse modo, a quantidade de mulheres a ocupar altos cargos públicos já pode ser medida em dezenas. Hoje temos até uma organização chamada Conselho de Mulheres Líderes Mundiais, que reúne mulheres atuantes na política e que já presidiram seus países ou exerceram o cargo de primeiro-ministro.

Durante uma única geração, a humanidade evoluiu para garantir uma verdadeira igualdade entre homens e mulheres. Hoje, está nítido que esse processo é irreversível!

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