Victor Gers Jr.
Vila Zelina, um caldeirão de diversidades culturais
As comunidades deste bairro de São Paulo são formadas por búlgaros, croatas, eslovenos, estonianos, húngaros, letonianos, lituanos, poloneses, russos, tchecos e ucranianos
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Acredito que ainda há pessoas que perguntam: quais são os benefícios da tematização do bairro de Vila Zelina como Bairro do Leste Europeu? A resposta é que os benefícios virão por si sós, e naturalmente, como em todo e qualquer ponto turístico, a ação proporcionará melhoria da infraestrutura urbana, segurança, aumento de vendas no comércio local, congelamento da verticalização desenfreada (sem planejamento urbano) e visibilidade nacional e internacional de um bairro que acredito ser o único no mundo que consegue reunir harmoniosamente onze comunidades de imigrantes dos países do Leste Europeu, de religiões distintas, que o fundaram há 84 anos.
Não é um argumento meu, mas sim um fato que presenciei durante minha habitação a trabalho durante cinco anos em países do Oeste e Leste Europeus, como também em minhas viagens para países da América do Norte.
A ideia surgiu em 2007, durante as comemorações dos 80 anos de fundação do bairro de Vila Zelina, quando em um só evento se reuniram grupos folclóricos, corais e personalidades locais, imigrantes e descendentes de imigrantes. A ideia foi – acreditem se quiserem – de um descendente de portugueses casado com uma descendente de ucranianos, Luiz Carlos do Amaral. No término da festa dos 80 anos, Antonio Vioto Netto, Demetrio Dimitrov e eu decidimos fundar a Amoviza – Associação dos Moradores e Comerciantes do Bairro de Vila Zelina. Convidamos então, na época, integrantes da primeira associação de moradores de Vila Zelina, como o Sr. Leonildo Gomes da Rocha, que se empenhou há algumas décadas contra a tentativa de minorias radicais de modificarem o nome de Vila Zelina para Vila Lituânia, proposta que foi repudiada por unanimidade pela comunidade do bairro.
A Amoviza desde então, além de mobilizar a comunidade para o bem de todos, investe nesse projeto de longo prazo que é a tematização do bairro. Pelo fato de o bairro ter esse aspecto cultural forte, o projeto de tematização do bairro de Vila Zelina – Subdistrito de Vila Prudente consiste na adição de detalhes arquitetônicos dos países do Leste Europeu nas fachadas dos prédios dos comerciantes, praças, calçadas, postes com floreiras, boulevard, luminárias, brinquedos temáticos no parque ecológico, feiras de artesanato e culinária típica nos finais de semana e construção de um portal. Há exemplos nos bairros da Liberdade, da cultura asiática; de Abernésia, em Campos do Jordão, da cultura suíça; e no Bixiga, da cultura italiana. O projeto de tematização consiste também na reserva, dentro do novo espaço destinado ao teatro de Vila Prudente, a ser construído até 2012, de uma sala que será um centro cultural comum e aberto ao público e de atividades culturais das comunidades do Leste Europeu, como workshops, palestras, feiras, etc., e de inclusão social.
Atualmente a Vila Zelina e bairros adjacentes incluem três igrejas ortodoxas russas, uma igreja católica lituana, uma igreja católica ucraniana, um templo russo da Assembleia de Deus, uma praça com um monumento lituano e um colégio franciscano frequentado por uma significativa quantidade de descendentes dos países do Leste Europeu. E mais: rotisseries com quitutes típicos, cozinheiras artesanais, padaria que faz o tradicional pão preto, artesãos, escolas de idiomas tradicionais (que incluíram o idioma russo em seus cursos regulares), professores particulares de idiomas daqueles países, associações culturais, grupos folclóricos e uma agência especializada no turismo do Leste Europeu. Realizam-se regularmente eventos sociais como almoços, bingos, jantares dançantes típicos, além de intercâmbios internacionais de caráter cultural e esportivo. Circulam também revistas periódicas das comunidades, como a “Comunidade Russa” e a “Músu Lietuva”, editadas em dois idiomas.
Poucos ainda não enxergam os benefícios comuns que esse processo de tematização do bairro proporcionará. Há ainda pessoas que acham que o processo de alguma forma faz distinção étnica, pois nem todos que vivem na Vila Zelina descendem dos países do Leste Europeu. Esses poucos críticos ainda não veem que o acesso à cultura e às tradições desses países será também uma forma de inclusão social. Podemos dizer que o tempo mostrará esses benefícios.
Anualmente se comemora o aniversário do bairro de Vila Zelina em 27 de outubro, data que já faz parte da agenda oficial da cidade de São Paulo (Lei Municipal 14.995). Próximo a esta data se realizam eventos solenes de homenagem às personalidades do bairro, festa de rua com barracas de artesanato e culinária típicas, além de shows folclóricos.
Tomamos todo o cuidado para não descaracterizar essa festa típica, evitando que se torne mais uma “festa das nações”. Todos os participantes do evento, como artesãos, cozinheiros e grupos folclóricos, são autênticos, o que garante a consistência cultural. Há também a abertura para os artesãos da comunidade local e empresas interessadas em se tornarem parceiros no patrocínio do evento.
A Amoviza, paralelamente a suas reuniões periódicas com a comunidade, tem seu site na internet – www.amoviza.org.br –, importante meio de interação com a comunidade, como também o sempre e contínuo suporte dos jornais locais. Faz ainda parceria com órgãos públicos e privados.
Este processo de tematização poderia caminhar a passos longos se tivéssemos o suporte das Secretarias de Cultura, do Turismo, do Metrô, e incentivos sobre o IPTU para os comerciantes que tematizassem suas fachadas. Porém, mesmo com todas essas dificuldades, estamos determinados, e com certeza faremos da Vila Zelina um bairro turístico cultural, melhor de se viver e com a qualidade de vida digna daquilo que chamamos de cidadania.