Vladislav Kuzmichev
A economia russa, finalmente, em crescimento estável
País é novamente o favorito dos grandes fundos internacionais
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Os acontecimentos no Japão e no Norte da África acabaram por ofuscar uma data de bastante importância para o sistema financeiro da Rússia. Nos últimos dias de março de 2009, no auge da crise financeira internacional, o índice da Bolsa russa, o RTS, atingiu o seu mínimo histórico, depois do que se seguiu a lenta recuperação das posições perdidas.
Transcorridos dois anos, os índices mais altos ainda não foram atingidos, mas o índice RTS já passou dos 2 mil (um crescimento de praticamente 300%, comparando com o índice mínimo). Esse nível atual, segundo já foi notado por analistas, era o que mais correspondia ao estado da economia russa anterior à crise. Os índices mais altos, até os 2.487 pontos (o nível histórico máximo do RTS), eram reflexo do superaquecimento do mercado e da bolha macroeconômica que se formava.
Nos primeiros dois meses deste ano, a economia russa finalmente atingiu os 4% de crescimento estável. A indústria cresce num ritmo mais acelerado ainda, 6,3% (sendo que o crescimento no setor de processamento foi de 11,8%). O transporte de cargas no país cresceu 5,5%, enquanto o comércio exterior, em 26,3%. No setor de processamento, a produção de automóveis liderou os índices de crescimento, que foram de 70%. A produção de couro e calçados aumentou 11,4%, a produção de borracha e plásticos, 23,8%, e a de máquinas e equipamentos, 14%. Deve-se ressaltar que o crescimento do índice RTS no mês de março, dos 1.900 para 2.000 pontos, não é consequência exclusiva dos indicadores macroeconômicos do país, mas foi suscitado também pelos acontecimentos na arena internacional. A Líbia é um grande fornecedor de gás para a Europa, e a Rússia ficará incumbida de compensar os seus volumes de fornecimento, no caso de a guerra com o país africano se alongar. Quanto ao Japão, a perda de energia das suas usinas nucleares corresponde a aproximados 13 bilhões de metros cúbicos de gás consumidos anualmente. Em função disso, a exportação de gás russo para o País do Sol Nascente poderá aumentar em 10 ou até 15 bilhões de metros cúbicos, ou de 7 a 10%. A Gazprom poderá contar, nesse caso, com um faturamento três ou cinco vezes superior.
Durante o processo de recuperação da economia japonesa, as companhias metalúrgicas, de carvão, de cobre (43% do qual são utilizados no transporte e em produtos eletrônicos) e, é claro, de petróleo podem esperar aumento nos lucros. Segundo avaliação de especialistas, a situação no Japão e no Oriente Médio pode provocar a alta do petróleo a até 150 ou 160 dólares o barril, em curto prazo. O Departamento da Energia dos Estados Unidos afirma que somente três países poderão garantir o aumento na oferta de petróleo: Brasil, Rússia e Cazaquistão.
A Rússia novamente foi a favorita dos grandes fundos internacionais. Ao final da terceira semana de março, segundo especialistas do Alfa Bank, apesar de perda de capital dos fundos de mercados em desenvolvimento como GEM, BRIC e grande parte dos fundos soberanos, a Rússia conseguiu atrair alguns milhões de dólares. Segundo especialistas da companhia UralSib Capital, entrevistados pelo jornal “RBC”, o volume total de capital sob controle dos fundos de investimentos russos ultrapassou os 20 bilhões de dólares, atingindo o seu máximo histórico de 20,2 bilhões de dólares.
Apesar de tudo, está evidente que a situação atual é bastante arriscada. Mesmo com os preços do petróleo em alta, a ponto de tirar o orçamento público do vermelho, não há sinais de um crescimento maior ainda. Desse modo, o valor das ações de companhias de petróleo parou de subir, o que já levou muitos analistas a avaliar se não estaria na hora de consolidar os lucros e sair do jogo.
Como era de se esperar, os altos preços dos recursos energéticos provocaram o fortalecimento do rublo em relação ao dólar. O câmbio já ultrapassou o recorde de dois anos atrás, e é de 28,16 rublos para um dólar. O euro, muito mais volátil, cresceu e equivale a 40 rublos.