Diário da Rússia

Vladislav Kuzmichev

Uma análise da economia russa no mês de abril

O fundamento do sistema financeiro internacional, estável nos últimos 20 anos, apresentou sua primeira grande rachadura. A agência Standard&Poor´s alterou de positivo para negativo as suas previsões do rating do crédito de longo prazo dos Estados Unidos.

Para uma economia primariamente orientada em redistribuição de fluxos de investimentos, isso é uma péssima notícia. Mesmo no caso de não acontecer uma real queda no rating dos EUA, os aplicadores em carteiras de investimento se depararão com riscos adicionais. “No caso de outras agências seguirem as previsões da S&P, uma grande queda nos aguarda”, opina o analista da empresa Investcafé, Anton Safonov.

Não foi por acaso que no dia da divulgação das informações da agência norte-americana o índice da Bolsa de Valores da Rússia caiu, de uma só vez, 4%, destruindo completamente os resultados dos esforços empreendidos pelos “touros” durante o último mês. O índice da Bolsa russa depende, em grande parte, dos movimentos do mercado de ações dos Estados Unidos, e nem sempre reflete os processos da economia da Rússia. Por exemplo, praticamente em paralelo às informações sobre a S&P, os centros de estatística divulgaram notícias sobre um bom desenvolvimento industrial russo no primeiro trimestre de 2011. O crescimento da produção industrial foi de 5,9%, sendo que em março essa alta foi de 11,7%, comparando com o mês de fevereiro.

O setor industrial mais dinâmico foi o de processamento, com alta de 10,6%. Na exploração de recursos minerais a alta foi de 3,3%. Uma ligeira queda, de 1%, foi registrada somente no setor de distribuição de energia elétrica, gás e água.

O líder do crescimento industrial novamente foi o setor de produção automobilística. Vale ressaltar, entretanto, que o ritmo de crescimento nesse setor diminuiu no primeiro trimestre de 2011, e não foi uniforme. A produção de automóveis de passeio foi a única desse segmento – no qual também se inclui na Rússia o transporte comercial leve – a registrar crescimento em 2,2 vezes, ou seja, na casa de centenas por cento. Na produção de automóveis de outro porte o crescimento foi menor, medido em dezenas por cento, e até apresentou queda de 23,7%, no caso dos ônibus elétricos.

Um bom resultado foi demonstrado pela indústria da construção – em muitos dos seus segmentos foi registrado crescimento superior a 30%. Resultados análogos foram atingidos em segmentos como os de produção de máquinas ferramentas, pneus de automóveis, malas e bolsas femininas.

A grande dor de cabeça do governo russo continua sendo a inflação. No primeiro trimestre de 2011, comparando com o mesmo período de 2010, o crescimento dos preços na indústria de processamento e de exploração mineral foi medido em percentagens nas casas decimais.

Por outro lado, os especialistas têm notado uma diminuição no ritmo de crescimento dos preços nos primeiros três meses de 2011. Desde o início deste ano e até 11 de abril, o índice de preços ao consumidor foi de somente 3,3%.

De qualquer maneira, o risco de inflação na Rússia ainda é muito alto. No futuro próximo, pelo menos dois fatores podem influir negativamente no processo de inflação. O primeiro é o alto preço do petróleo, capaz de estimular o retorno da doença holandesa na economia russa. O segundo fator é a safra de grãos. A seca e os incêndios do ano passado obrigaram a saída da Rússia do mercado internacional de grãos. As reservas de grãos permitiram uma tranquila sobrevivência do inverno. A safra deste ano decidirá se a Rússia, neste ano, será um exportador ou um importador de grãos.

Vladislav Kuzmichev é jornalista da “Gazeta Russa” – Russia Beyond The Headlines

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